“Empreender não é uma atividade para o fundador da empresa, é um conjunto de comportamentos e conhecimentos esperado de todos aqueles que estão envolvidos em projetos transformadores”.
Por Renata Horta – sócia fundadora do Tropos Lab
Se há algo que nos une nessa rede é a Inovação. Provavelmente todos que estão lendo esse texto tem um carinho especial por esse tema e seu potencial de transformar realidades. Sabemos que existem diferentes tipos de inovação e por isso mesmo ela pode acontecer na maior diversidade de contextos.
Mas todo processo de inovação, independente do contexto, tem um elemento comum que é o empreendedorismo. Sem empreendedorismo não há como transpor as barreiras tecnológicas, culturais, políticas, sociais ou de mercado que a inovação usualmente gera. Por outro lado, o termo empreendedorismo ainda é muito relacionado com a atividade de se criar uma empresa, mas é muito mais que isso.
Empreendedorismo é a capacidade de mobilizar recursos diversos e muitas vezes inusitados para realizar um projeto transformador. Assim, empreender não é uma atividade para o fundador da empresa, é um conjunto de comportamentos e conhecimentos esperado de todos aqueles que estão envolvidos em projetos transformadores.
Em um país onde tanto há por transformar, convocamos ansiosos a presença das pessoas que são capazes de: identificar o que precisa ser feito, trabalhar em ambientes de restrição e ainda assim mobilizar recursos de todos os tipos especialmente pessoas, elaborar estratégias, realizar atividades planejadas com eficiência, mudar os planos e mobilizar novamente pessoas e recursos, solucionar problemas complexos motivados pelas consequências de longo prazo, que não o deixam desistir frente aos desafios. Observem que descrevi comportamentos de um empreendedor, e mais que isso, descrevi o empreendedorismo através de comportamentos.
Ainda que de forma incompleta, é possível perceber a diversidade de contextos onde esse “pacote de comportamentos” pode ser aplicado. Por isso, desenvolver o empreendedorismo é tão relevante para o país como elemento chave para promover mudanças e também tão importante para a carreira das pessoas que desejam deixar um legado ou se diferenciar.
Apesar de ser uma peça-chave para o desenvolvimento, a educação empreendedora ainda é mal compreendida. Porque?
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
Além de limitações conceituais como a de restringir o conceito de empreendedorismo ao ambiente empresarial, como apresentado acima, existe pouca sistematização dos processos de desenvolvimento do empreendedor. Isso significa que cientificamente ainda não está bem descrito o processo de como um empreendedor se desenvolve, o que o faz formar esse “pacote” de comportamentos.
Além disso, ao falar de desenvolvimento do empreendedor é preciso pensar em dois eixos: o cognitivo (do conhecimento teórico) e o do não cognitivo (das habilidades e sentimentos).
Sobre a descrição de como o empreendedor se desenvolve, imagine como ficaria mais fácil a tarefa de um educador que soubesse quais competências trabalhar para que um aluno desenvolva o repertório empreendedor. O tipo de descrição comportamental feita acima, como “realizar atividades planejadas de forma eficiente” direciona esse trabalho mais do que termos “metafóricos” como pró-atividade, por exemplo.
O que acontece é que a literatura é rica em termos que pouco descrevem o que de fato é comportamento. Somado a esse desafio, mesmo os termos já descritos encontram pouco ambiente de desenvolvimento na educação formal uma vez que ela tende a ser cognitiva e a maior parte das competências empreendedoras tende a ser não cognitiva. Ou seja, na prática, as escolas entendem que empreendedorismo é criar empresas, e aquelas que acreditam que isso é legítimo de se trabalhar no ambiente escolar, desenvolvem conteúdos teóricos sobre criação de negócios (plano de negócios etc).
Mas aprender empreendedorismo não se limita a livros e não é possível sentando na sala de aula e ouvindo o professor falar, mesmo se o seu trabalho final for escrever um plano de negócios. Isso representa apenas uma pequena parcela do que o empreendedor precisa aprender, e toda a literatura indica que isso não é suficiente para realizar projetos transformadores de forma bem sucedida.
Sem solucionar o dilema da aprendizagem não cognitiva no ambiente das escolas, o desenvolvimento do empreendedor acontece em outros lugares e de forma orgânica.
ONDE A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA ACONTECE
Mesmo que de forma não sistemática, o desenvolvimento do empreendedor acontece. Os locais onde eles tem se formado são empresas juniores, organizações estudantis como Movimento Empresa Júnior (http://www.fejemg.org.br/site/) , Aiesec (http://www.aiesec.org.br/), comunidades de startup como a San Pedro Valley (www.sanpedrovalley.org), eventos como TEDx (https://www.ted.com/topics/brazil) e Startup Weekend (http://startupweekend.org/events), ou ainda em escolas alternativas como Lumiar (http://lumiar.org.br/) para crianças ou a Ginga (www.troposlab.com/ginga/), para adultos.
Especialmente para os jovens que tiveram a oportunidade de criar uma empresa Junior, a experiência oferecida por esses ambientes pode auxiliar o desenvolvimento do empreendedorismo. Por isso mesmo é lá que muitas empresas vão recrutar jovens para seus processos seletivos. Da mesma forma, liderar a organização de um evento de impacto como o TEDx, participar das ações do grupo de igreja, ou entrar em uma comunidade startup com uma ideia, guardam algumas semelhanças.
Todos esses são ambientes que demandam: identificar o que precisa ser feito, trabalhar em ambientes de restrição e ainda assim mobilizar recursos de todos os tipos especialmente pessoas, elaborar estratégias, realizar atividades planejadas com eficiência, mudar os planos e mobilizar novamente pessoas e recursos, solucionar problemas complexos motivados pelas consequências de longo prazo, que não o deixam desistir frente aos desafios.
Ainda que esse desenvolvimento esteja acontecendo, a formação de empreendedores parece um assunto importante demais para nossas carreiras e para nosso país para não ser trabalhada de forma sistemática. Importante demais para não ter políticas claras de disseminação.
Por isso, cada um de nós tem o desafio de buscar desenvolver em nossas equipes, alunos e grupos dos quais participamos um novo conceito de empreendedorismo transformador, abrir espaços e oportunidades para que esse desenvolvimento não cognitivo aconteça, estimular as iniciativas que existem, cobrar que novos programas e políticas surjam e, com isso, aumentar a frequência e intensidade do empreendedorismo em benefício das transformações que precisam ser geradas.
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