Fundador da Lett, Rodrigo Carvalho, lembra de seu caminho empreendedor e conta sobre o momento em que saiu do emprego para tocar o próprio negócio
Por Renato Carvalho/SIMI

O #PerfilEmpreendedor desta semana é natural de Conselheiro Lafaiete, interior de Minas Gerais, mas já morou em diversos lugares, como Rio de Janeiro, Florianópolis e até no Chile. Há aproximadamente três anos, Rodrigo Carvalho, de 30 anos, fundador da startup Lett, escolheu Belo Horizonte para se estabelecer e tocar seu negócio.
Nas horas vagas, Rodrigo gosta de se desligar do empreendedorismo. “Gosto de viajar, fazer trilhas, cachoeiras, praias. Nos finais de semana, sempre que posso, tento ir para um lugar mais calmo.” Conheça um pouco do empreendedor na entrevista abaixo:
SIMI: O que é a Lett?
Rodrigo: A Lett trabalha com tecnologia e soluções na área de trade marketing digital. Basicamente, o que fazemos é ajudar o fabricante de um produto, por exemplo, uma LG, uma Nestlé, a entender como seus produtos estão sendo vendidos nos e-commerces. Imagine que a LG produz um celular, só que quem anuncia na internet é a Lojas Americanas, Magazine Luiza, Ricardo Eletro. A LG não tem controle de como esse produto está sendo apresentado para o consumidor final. O que a Lett faz é monitorar esses pontos de vendas para esses fabricantes e ajudá-los a entender o que está sendo feito de certo e errado na apresentação dos produtos. Assim, eles podem tomar alguma ação para otimizar a apresentação dos produtos e aumentar as vendas.
SIMI: Como surgiu a ideia desse modelo de negócio?
Rodrigo: A Lett começou com outro modelo de negócio. Eu morava no Rio de Janeiro e sentia um problema muito grande para fazer compras de supermercado por lá. Geralmente os estabelecimentos não tinham estacionamento, estavam lotados e os preços eram bem caros. Surgiu a ideia de fazer uma espécie de Buscapé de compras de supermercado, no qual as pessoas poderiam selecionar os produtos que elas queriam na plataforma. Faríamos uma cotação em qual supermercado aquela lista sairia mais em conta e o estabelecimento entregaria na casa da pessoa para que ela não tivesse tanto transtorno. Aplicamos essa ideia a um programa em Santa Catarina. Recebemos recursos e começamos a desenvolver o projeto. Ficamos mais ou menos um ano desenvolvendo esse produto e não tínhamos experiência na área de empreendedorismo. Cometemos o erro de desenvolver o produto sem validar se o produto era vendável. Nessa validação, que demoramos um ano para fazer, descobrimos que o mercado não estava preparado para esse tipo de solução. Conversamos com a Nestlé e identificamos que eles tinham outro tipo de demanda, que é o modelo atual da Lett. Depois de um ano desenvolvendo um produto, descobrimos que a oportunidade de mercado era outra e pivotamos o modelo.
SIMI: Como foi a experiência de pivotar?
Rodrigo: Foi super difícil porque demoramos um ano para tomar essa decisão. No final de um ano, o dinheiro do programa que estava sustentando o negócio estava acabando. Chegamos ao final daquele ano e resolvemos começar um negócio que não conhecíamos nada, não tínhamos experiência. Foi doloroso todo mundo abraçar o negócio e pular de cabeça, mas foi super importante. Quando tomamos essa decisão, o grau de união da equipe foi algo bem marcante. Fez com que ficássemos, como equipe, uma empresa bem mais forte.
SIMI: Quando você começou a empreender? A Lett foi sua primeira experiência?
Rodrigo: Comecei cedo com empreendedorismo, não tão profissional. Com mais ou menos 13 anos de idade desenvolvi um site, bem simples e básico, para colocar fotos de eventos. Eu e um amigo íamos para festas, tirávamos fotos e colocávamos no site. Durante a faculdade, estudei Engenharia de Controle e Automação, pois queria um curso em que pudesse desenvolver coisas novas. Durante a faculdade empreendi novamente. Dessa vez a startup chamava TôNaTela. A gente participava de eventos, palestras, qualquer tipo de festa que tivesse uma audiência que poderia interagir entre si. Instalávamos telões ou televisões e as pessoas podiam mandar mensagem de texto, SMS, para que aparecesse em tempo real nas telas para outras pessoas do evento. Era uma espécie de Twitter para eventos. Isso foi uma febre durante a época de faculdade, porque colocávamos isso em todas as festas e as pessoas interagiam muito. Íamos atrás de empresas que anunciavam para o público universitário e elas faziam propaganda em meio às mensagens. Foi um projeto mais de diversão do que de atividade econômica, mas foi bem legal para desenvolver um produto e ir para o mercado vender isso de alguma forma. Foi uma experiência divertida que vi que gostava dessa área de empreendedorismo.
SIMI: Quando foi o momento em que você decidiu iria empreender para valer?
Rodrigo: Queria muito construir meu próprio negócio. A parte mais legal de construir seu próprio negócio é que você consegue ver o resultado do seu trabalho diretamente. Se você trabalha muito, se dedica e cria algo legal, você vai ter o resultado direto disso. Muitas vezes quando você está trabalhando para alguém, ou em uma empresa muito grande, isso acaba que nem aparece e desmotiva um pouco as pessoas. Primeiro, assim que saí da faculdade, fui trabalhar em uma empresa tradicional de engenharia. Trabalhava na indústria do Petróleo e Gás, trabalhava embarcado, fazendo perfuração de poço de petróleo para a Petrobras. Eu acreditava que para empreender era necessário ter uma experiência empresarial grande, precisava ter um dinheiro guardado para poder investir no negócio. Eu tinha na cabeça que o empreendedorismo era algo para gente mais velha e experiente. Queria empreender, mas imaginava que precisava passar pela área corporativa antes. Nesse meio tempo surgiu a oportunidade do programa de Santa Catarina, onde o projeto foi aprovado e eu recebi uma “grana” para poder investir no próprio negócio. Foi isso que me fez parar para pensar e ver que não precisaria seguir uma carreira tradicional para depois empreender. Se eu continuasse ali ficaria cada vez mais difícil de abrir mão das coisas que construí para assumir um negócio de risco, que é uma startup. Foi esse concurso que me impulsionou para tomar a decisão de arriscar e querer construir a minha startup.
SIMI: O programa de Florianópolis foi decisivo para você empreender. Na sua visão, qual a importância dessas iniciativas para o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil?
Rodrigo: São duas principais vantagens que podem ser um diferencial econômico de qualquer país, estado ou cidade. Primeiro: você seleciona pessoas com potencial, mas que muitas vezes não têm recurso necessário para começar o próprio negócio – que era um pouco do que eu pensava. Por outro lado, a gente vê que startups surgem de diferentes áreas da economia, da saúde, varejo etc. Muitas vezes as pessoas que começam esses empreendimentos não foram capacitadas, treinadas, não tiveram ensino superior relacionado à gestão de negócios. Às vezes, a pessoa é muito boa na tecnologia que desenvolve, mas talvez não seja tão boa gestora de empresa. Esse tipo de programa consegue conciliar o recurso, que é para fazer o negócio acontecer, e ao mesmo tempo capacita os fundadores. Sem isso é muito difícil o negócio ir para frente. Uma hora você vai pisar na bola, comer uma mosca e o negócio pode ir por água abaixo.
SIMI: Quais são os maiores desafios que você vê no empreendedorismo?
Rodrigo: O primeiro deles é conseguir ter uma equipe realmente boa e comprometida. É muito comum ver em startups, depois de um certo tempo, quando o negócio não está tracionando, crescendo como os fundadores gostariam, e aí os atritos entre os sócios começam. É difícil ter uma equipe em que todos estão comprometidos da mesma forma e dispostos a assumir os mesmos riscos. No começo da Lett a gente foi aprendendo muito sobre isso. A equipe evoluiu depois que entendemos que sociedade é todos estarem correndo os mesmos riscos. O segundo aprendizado foi ter uma cabeça mais analítica e menos paternalista em relação ao produto, para não sair desenvolvendo uma coisa que você gosta e acredita, mas sem validação. Sem ir ao mercado e ter certeza que aquilo vai virar um negócio com potencial. Foi o nosso erro com o Buscapé de supermercado lá em 2014. Hoje temos muito mais cuidado e pé no chão.
SIMI: Você disse que já morou em outros cidades. Por que decidiu se estabelecer em BH?
Rodrigo: A empresa nasceu em Florianópolis, mas quando fomos montar a equipe, duas pessoas eram de Belo Horizonte. Nesse meio tempo vimos que a área comercial precisava ficar em São Paulo e ficamos divididos entre Florianópolis, São Paulo e Belo Horizonte, que abrigava a área de desenvolvimento. Estávamos muito separados. Um dos fundadores da Lett, por razões pessoais, resolveu sair do negócio, e como minha família é de Minas, fez mais sentido eu vir para Belo Horizonte, do que os outros sócios de BH irem para Florianópolis. Foi um mix de questões pessoais e, ao mesmo tempo, avaliamos bastante o fato de BH ser um celeiro na área de tecnologia da informação, de talentos de software e achamos que seria importante para o futuro da empresa.
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