“Inovar na moda é olhar para o que a faz existir: nossos sonhos, nossos afetos, nossa identidade”.
Por Cris Guerra
No dia 31 de agosto de 2007, fiz meu primeiro post no Hoje Vou Assim, blog que nasceu com a ideia simples de mostrar todos os dias a roupa que eu havia escolhido para ir para o trabalho. Eu precisava me expressar, as palavras foram pouco e assim, despretensiosamente, a moda passou a ser mais uma das minhas formas de escrever. Quem diria: há nove anos, essa colorida revolução que se iniciava na minha vida, anunciando uma primavera em mim, foi um dos primeiros passos de uma tendência de comportamento que tomou conta do universo da moda no Brasil. Hoje, fazer o “look do dia” é coisa corriqueira. Na época, o hábito foi visto com estranhamento por alguns e entusiasmo por outros. À medida que a notícia ia se espalhando, mexia com a autoestima de milhares de mulheres, impactava rotinas, impulsionava revoluções pessoais importantes. A brincadeira culminou, entre outras coisas, em minha nova profissão. A publicitária passou a atuar também como colunista e formadora de opinião em moda. Publiquei o livro “Moda intuitiva”, que acaba de ganhar edição revista e ampliada. Comecei a palestrar pelo Brasil sobre moda, identidade, autoestima e sobre caminhos mais intuitivos na descoberta do estilo próprio.
Quando sugeri que cada um de nós é estilista de si mesmo, não imaginava que aquele pensamento, a meu ver óbvio, pudesse fazer as pessoas pensarem melhor sobre suas formas de vestir. Quando convidei as pessoas a pensar em novas combinações para velhas peças, a proposta era parar de olhar para fora e passar a enxergar por dentro. O que para mim não parecia novo era uma mudança de paradoxos para muitos à minha volta. A publicação diária das minhas fotos convidou pessoas comuns a se postarem diante de um espelho emoldurado pelo vestir – e ali tantos outros traços se revelavam.
A palavra inovação assusta. Soa algo tecnologicamente sofisticado, como uma entidade externa e estranha, desprovida de humanidade. Mas inovar é algo mais sutil. Está no olhar, mais que na matéria, no efeito, muito mais que no aspecto. Buscando um canal de expressão para um momento muito particular da minha vida pessoal, inovei sem perceber. E acabei ajudando a mostrar que a moda pode tocar as pessoas de forma diferente e profunda. A internet fez parte dessa inovação porque aproximou de um grande número de pessoas uma atitude que fazia parte do meu cotidiano. O novo, ali, estava na exposição desse cotidiano, não na forma encontrada para tornar essa exposição possível.
Nas mudanças a que assistimos todos os dias, inovar é colocar a moda cada vez mais perto do que é humano. É novo comprar uma roupa tendo como uma de nossas preocupações quem esteve envolvido em sua fabricação e de que forma esse processo ocorreu. É novo adquirir uma roupa direto de quem cria e produz. É novo ter menos no armário, em lugar de cada vez mais. É novo fabricar uma coleção com a matéria-prima da coleção passada, sem comprar nem um metro de tecido. É novo olhar para o de sempre com um ponto de vista transformador.
Talvez a própria palavra inovação tenha sido atualizada, como de vez em quando fazemos com os nossos aplicativos no celular. A cada passo ganhamos em simplicidade, porque se torna mais natural e intuitivo fazer uso dela.
Para muitos, é novo usar uma moda que não manda em nós, da qual passamos a ser os senhores. É novo o que posso ser a cada dia com a ajuda da moda, e o mais novo é fazer tudo isso sem deixar de ser eu mesma.
Talvez o grande passo para inovar nesses novos tempos que jamais permanecem os mesmos seja buscar outras formas de nos aproximar de nossa essência. Simplificar processos, limpar a mente, incluir o caminho como parte do resultado. Inovar na moda é olhar para o que a faz existir: nossos sonhos, nossos afetos, nossa identidade. A maior novidade surge sem alardes, mas com uma força definitiva: nunca foi tão precioso ser nós mesmos.
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