Acesse os dados do ecossistema mineiro de inovação

Acessar SIMI Database

InicialBlogNotíciasArtigo: o uso de big data nos ...

Artigo: o uso de big data nos governos e seu potencial revolucionário

O armazenamento e a disponibilização de dados são fatos mundiais que atingiram os governos, contudo a interpretação e utilização desses dados para tomada de decisão ainda apresenta um espectro de dive


Por Thiago Borges

Segundo estudiosos da área de ciências sociais, somos uma sociedade baseada na comunicação. As novas tecnologias contribuíram fortemente para a quantidade de informações que circula mundialmente tornando nossa sociedade a mais complexa já existente. O desenvolvimento da tecnologia a partir da década de 1960, a redução dos custos de hardware e de mão de obra especializada, impulsionaram a utilização de sistemas informatizados por todas as organizações e ampliou, de forma incontável, o volume de dados armazenados.

Em paralelo ao movimento de desenvolvimento tecnológico, a população mundial passou a utilizar os dados disponíveis para acompanhar as atividades desenvolvidas pelas organizações, sejam elas privadas ou governamentais, e buscar estabelecer medidas de desempenho. A complexidade dos ambientes e a disponibilidade de dados permitem uma avaliação de resultados, sociais ou econômicos, o que alimenta a expectativa por resultados positivos a partir da aplicação de recurso. Os gestores passaram a decidir em ambientes onde há muitas variáveis, risco elevado, alto nível de incerteza e uma crescente necessidade de agir rapidamente para aproveitar oportunidades e, consequentemente, evitar potenciais ameaças.

O armazenamento e a disponibilização de dados são fatos mundiais que atingiram os governos, contudo a interpretação e utilização desses dados para tomada de decisão e, no passo seguinte, para monitoramento dos resultados ainda apresenta um espectro de diversidade muito grande. Os governos apenas arquivam os dados para aqueles que avaliam suas opções a partir de estudos baseados nas informações provenientes dos bancos de dados.

No Brasil, alguns estudos acadêmicos permitem duas inferências: a) os governos ainda são apenas armazenadores de dados; e b) os gestores públicos ainda possuem baixa qualificação para interpretações de cenários complexos. A primeira inferência se deve a uma política de transparência de dados recente, e a segunda pelo fato das formações especializadas dos gestores e da falta de sistemas ou plataformas simples de interpretação e correlação dos dados.

É neste contexto que se inserem as ferramentas de big data, sem entrar especificamente no conceito do campo da computação, podemos definir esse conjunto de palavras como a utilização de um grande volume de dados e de fontes variáveis, que são processados em um espaço curto de tempo para responder perguntas específicas. Se construídos a partir das perguntas certas, os sistemas de big data podem representar instrumentos importantes para indicar tendências a partir do cruzamento de diversas variáveis permitindo uma redução considerável das opções disponíveis, com o objetivo de minimizar riscos. Além disso, tendem a reduzir o tempo de coleta, processamento e análise feita pelos gestores permitindo uma concentração de esforço na execução e no monitoramento dos resultados.

Em um cenário cada vez mais restritivo em relação às formas possíveis de aumento da arrecadação dos governos, a utilização dos sistemas de big data para análises na escolha e desenvolvimento de políticas públicas tende a permitir discussões mais profundas acerca das opções e das justificativas para dispêndio de recursos públicos, não se trata aqui de eliminar o caráter político da escolha, mas de permitir que escolhas políticas tenham uma maior assertividade quanto aos seus resultados.

Um exemplo de como plataformas de análises de dados podem ser utilizadas sem impedir as decisões políticas, mas apontando opções analiticamente viáveis, é o uso da plataforma DataViva para decisões sobre diversificação econômica. A plataforma dentre diversas aplicações possíveis, disponibiliza um gráfico que demonstra o espaço de produtos (Product Space) em alguns níveis de agregação. Esse espaço de produtos apresenta uma rede na qual os elos são produtos com uma forte correlação para coexportação, como por exemplo, países ou regiões que exportam carro ou computadores também tendem a exportar turbinas de avião.

Em um caso hipotético relacionado ao uso do Product Space pode-se verificar que, ao analisar o espaço de produtos de uma região, fica claro que a exportação com vantagem comparativa em relação a uma média mundial apenas produtos primários, indicando também que seu parque industrial está mais próximo de se investir na industrialização desses. O governo dessa região pode optar por uma política pública que incentive essa evolução gradual com um possível dispêndio de recursos menor, ou optar por dar um salto tecnológico e buscar atrair novas empresas. Desse modo será preciso capacitação de mão de obra, campanhas de conscientização dos empresários, realização de encontros e rodadas de negócios para desenvolver uma nova indústria. Tomada a decisão é necessário monitorar os resultados para verificar a assertividade da escolha ou a necessidade de correção de rumos.

O DataViva responde a essas e outras questões como: quais são os produtos importados e exportados por um município? Quem são os principais parceiros comerciais para as importações e exportações de estado ou município? Quais as ocupações mais empregam em determinado município ou no país? Quais cursos possuem maior número de matrículas em determinada região? Esses cursos atendem a demanda por mão de obra especializada da região? Todas essas perguntas demonstram a infinidade de possibilidades de aplicações com apenas cinco bases de dados analisadas. Apenas com um exemplo de plataforma de big data fica claro o potencial de uma análise de dados consistente para apoiar a tomada de decisão e validar escolhas públicas. A aplicação dessas ferramentas perpassa diversas áreas como saúde, educação, meio ambiente, fiscalização, entre outras.

Por fim, resta esclarecer que a tecnologia está disponível, os dados são coletados todos os dias, o que falta é uma mudança cultural que valorize a análise de dados e pessoas para fazer as perguntas certas aos sistemas e se responsabilizar pelas escolhas feitas.

Sobre o autor
Thiago Borges é mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é professor no IBMEC de contabilidade Governamental e Metodologia Científica.

Fonte:

Calendar

junho 2025
D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930  
Cesta De Compras