Joana D’Arc Félix de Souza superou a fome, o preconceito e dificuldades financeiras para se tornar uma das principais pesquisadoras brasileiras
Por Redação
Uma mulher brasileira, com um nome forte e histórico, superou a pobreza, fome e preconceito para se tornar uma cientista, PhD em química, pela Universidade de Harvard, uma das mais renomadas do mundo. Joana D’Arc Félix de Souza, de 53 anos, soma 56 prêmios em sua carreira. Entre eles, o de “Pesquisadora do Ano”, no Kurt Politizer de Tecnologia de 2014, concedido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abquim).
Sua trajetória começou em Franca, interior de São Paulo. Filha de empregada doméstica e de um operador de curtume, Joana já apresentava indícios de que tinha aptidão para o conhecimento. Sua mãe a levava para a casa da patroa e lá aproveitava os jornais e revistas para ensiná-la a ler. “Uma diretora da Sesi foi visitar a dona da casa e perguntou se eu estava vendo as fotos. Disse que estava lendo, ela se surpreendeu e sugeriu que eu fosse na escola. Se eu conseguisse acompanhar, a vaga seria minha”, disse Joana em entrevista a Uol.
Ela conquistou a vaga e com 14 anos já terminava o ensino médio. Inspirada no pai, que processava couro cru para ser utilizado na indústria, Joana prestou vestibular em química. Ela pegou material emprestado e se dedicou dia e noite para entrar na Unicamp, deixando os preconceitos sofridos para trás.
“As cidades de interior têm aquela coisa de sobrenome: se você tem, pode ser alguém, se não tem, não pode. Sempre enfrentei preconceito. Na minha segunda escola, mesmo sendo estadual, tinha aquela coisa de classe para os ricos, classe para os pobres, com tratamentos diferentes. Mas não usei isso como obstáculo, e sim como uma arma para subir na vida”, disse.
Em Campinas, a mais de 300 quilômetros de sua cidade natal, Joana passou muita dificuldade, pois vivia com o dinheiro que o pai recebia e do patrão dele, para que pagasse somente o pensionato onde morava, as passagens de ônibus e o almoço na universidade. A situação melhorou quando começou a iniciação científica e teve auxílio da Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Ainda em Campinas, ela concluiu mestrado e doutorado com apenas 24 anos. Um dos artigos da cientista saiu no Journal of American Chemical Society, e logo ela recebeu o convite para seguir os estudos nos Estados Unidos. “Nos Estados Unidos, eu pedia um reagente químico e em duas ou três horas conseguia. No Brasil, até eu arrumar dinheiro, fazer solicitação… Aqui tem mais burocracia. A questão de financiamento para pesquisa é bem mais rápida lá”, explicou.
De volta a Franca, Joana passou a trabalhar em conjunto com curtumes da cidade. Ela conseguiu desenvolver, com sua equipe de alunos, uma pele similar à humana a partir da derme de porcos. Isso ajudaria no abastecimento de bancos de pele especializados e de hospitais, além de baratear o custo de pesquisas, uma vez que a matéria-prima do animal é abundante e de baixo custo.
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