Projeto terá um investimento de mais de R$200 mil para a condução do estudo
Por Fapemig
Em tempos em que a popularidade do mosquito Aedes aegypti anda alta, a população fica aflita para que a ciência consiga uma solução para controlar doenças como a Dengue, a Zika e a Chikungunya. O que as pessoas desconhecem é que, para as pesquisas avançarem, é necessário manter milhares de mosquitos em laboratório, muito bem alimentados, para que os testes sejam feitos.
Pensando nisso, o jovem estudante de doutorado do Centro de Pesquisas René Rachou da Fiocruz de Minas Gerais, Heverton Dutra, está desenvolvendo uma dieta artificial para mosquitos em laboratório que dispensa sangue humano e animal. Essa pesquisa lhe rendeu a premiação de 100 mil dólares, da Fundação Bill & Melinda Gates, para desenvolver um estudo pioneiro no controle da dengue. O mineiro, de 27 anos, foi o único brasileiro financiado na 16ª rodada do prêmio. Heverton explica que o Brasil, por questões de biossegurança, proíbe que alguma pessoa coloque o próprio braço dentro de uma gaiola e alimente os insetos. Desta forma, a alternativa é a utilização de sangue humano de bancos de sangue.
No caso da pesquisa de Heverton, esse é o único caminho, pois alguns grupos de pesquisa alimentam suas colônias com sangue de camundongo, ou de galinhas, mas isso não pode ser feito nesta pesquisa. “Nossos mosquitos possuem uma bactéria chamada Wolbachia, a qual está sendo utilizada por nós como uma forma alternativa e autossustentável de controle da Dengue no país, visto que essa bactéria interfere no desenvolvimento do vírus no mosquito vetor”, explica.
A pesquisa é apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por meio do Auxílio Universal Complementar (AUC-00001-16), que prevê um investimento de mais de R$200 mil para a condução do estudo. A Wolbachia é uma bactéria naturalmente presente em mais de 60% dos insetos e que, quando inserida no Aedes aegypti, reduz a capacidade do mosquito em transmitir o vírus da dengue. Esta característica foi descoberta por pesquisadores do programa internacional Eliminar a Dengue: Nosso Desafio, com a participação do pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil e orientador de Heverton no doutorado.
Segundo o estudante, uma questão interessante sobre esta bactéria é que, quando presente no mosquito, este só é capaz de produzir ovos de forma satisfatória, se alimentados com sangue humano, visto que sangue de outros vertebrados, como camundongos e galinhas, não possuem todos os nutrientes necessários para que o mosquito, com esta bactéria, produza ovos saudáveis.
Pesquisa
A alimentação alternativa estudada por Heverton tem como base quatro pilares essenciais: 1) uma fonte proteica de origem animal, de fácil acesso, diluída em 2) uma solução salina que simule as condições fisiológicas e bioquímicas do sague humano; 3) um fagoestimulante químico, no caso a adenosina trifosfato (ATP) – que, de acordo com o pesquisador, é amplamente descrita na literatura como sendo um elemento que estimula as fêmeas dos mosquitos a se alimentarem de determinada solução; e 4) uma base lipídica que garanta o desenvolvimento adequado dos ovos dos mosquitos. Tudo isso associado à adição de micronutrientes comumente presentes no sangue humano. “Como o projeto ainda está engatinhando, alguns dos nossos componentes podem ser alterados no futuro, de forma que, semanalmente, buscamos aperfeiçoar cada um dos componentes para ficar o mais próximo possível ao sangue humano”, explica o pesquisador.
Até o final do projeto, Heverton espera ter uma dieta 100% artificial em mãos que possa ser usada como base para a aplicação na segunda fase de financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates. O estudante diz que o seu sonho, no momento, é ser aprovado nessa segunda etapa e poder levar a dieta artificial para os laboratórios de pesquisa em outros países. “Ter um produto barato, que possa ser transportado facilmente para qualquer lugar do mundo, não necessite de condições especiais de armazenamento, como resfriamento, e que funcione de forma similar ao sangue humano, para a manutenção das colônias de vetores. Sabe os sucos em pó que encontramos aos montes nas prateleiras dos mercados? Essa é a minha meta com a dieta artificial”, detalha.
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