Pesquisadores mineiros constroem caminhos virtuais para conectar áreas de preservação ambiental em todo o planeta e evitar perda de biodiversidade
Por Redação

Pedro Christo, Guilherme Oliveira e Elpídio Fernandes: três dos cinco pesquisadores responsáveis pela criação dos corredores ecológicos
Enquanto muitas pessoas exploram os recursos naturais do planeta sem pensar no futuro, outros começam a planejar a sobrevivência na Terra daqui a 50 anos. A Fundação Leonardo Di Caprio acaba de divulgar um projeto de escala global que pretende mapear possíveis corredores ecológicos permitindo o livre deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal entre áreas protegidas à medida que as mudanças climáticas avançam. E sabe quem traçou estes caminhos? Um uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa.
O trabalho dos pesquisadores do Departamento de Solos da UFV vai subsidiar o esforço da fundação para arrecadar mais de U$ 20 milhões e acelerar iniciativas de conservação e a busca de soluções inovadoras para a crise climática. A equipe foi convidada pela Fundação Globaïa, situada na Inglaterra, para, em seis meses, mapear uma possível rede de segurança para a sobrevivência de espécies ameaçadas no planeta.
A escolha de uma universidade brasileira se deu devido à diversidade biológica que existe em nosso país. “Para executar este projeto, a Fundação Leonardo DiCaprio considerava convidar algumas universidades dos Estados Unidos e da Europa com as quais já havia trabalhado. Foi quando apontei a importância de trabalharmos com uma universidade do Brasil devido à posição do país no ranking de diversidade biológica e à necessidade de abordarmos um projeto dessa magnitude a partir de diferentes ângulos”, disse Manno França, um dos diretores da Fundação Globaïa.
Especialistas em geoprocessamento, os pesquisadores buscaram mapas de todas as áreas protegidas conhecidas no planeta e desenvolveram modelos computacionais sofisticados para buscar rotas viáveis entre elas. O objetivo é que os caminhos traçados se tornem áreas delimitadas e definidas como de alta prioridade. Caso o projeto se concretize, serão recuperadas áreas com mata nativa para movimentação de espécies e fluxo gênicos.
O mapeamento global de corredores ecológicos e do potencial de conservação é a fase inicial de um projeto mais longo de utilização dos mapas como base para desenvolver outro ainda mais complexo e detalhado. Para Manno França, ”o objetivo final é chegar a uma proposta de conservação e uso sustentável de cerca de 50% do planeta, considerando a necessidade de assegurarmos a integridade da biosfera em face do crescimento acelerado da população mundial”.
Por que ter uma rede de segurança?
Para entender melhor a proposta da fundação, é preciso saber que pesquisadores e ambientalistas reconhecidos acreditam que, para garantir a sobrevivência humana, é preciso que metade do planeta esteja protegido para manter recursos biológicos da flora e da fauna. Segundo o Relatório do Planeta Vivo, do World Wide Fund for Nature (WWF/2016), o desmatamento generalizado já fez desaparecer da Terra metade das espécies de vertebrados, desde a década de 1970. A situação é muito pior para as populações de água doce, que registraram um declínio global de 80% no mesmo período.
Para o diretor executivo da Fundação do Ator de Hollywood, Justin Winter, a sociedade moderna tem subestimado o papel vital que a natureza desempenha em fornecer à humanidade ar puro e água, alimentos saudáveis e um clima estável – elementos essenciais para sustentar a vida. “Uma ‘rede de segurança’ de ecossistemas protegidos e conectados ao redor do planeta, poderia evitar uma crise climática e criar um mundo onde a natureza e a humanidade coexistam e prosperem”, afirma.
Ao lançar o projeto em Washington, no início deste mês, Winters disse ainda que, sem uma diversidade de espécies de plantas e animais, os principais ecossistemas poderiam entrar em colapso, ameaçando os recursos sobre os quais a civilização humana se baseia. “Os ecossistemas saudáveis capturam, filtram, reciclam e distribuem a água da chuva, irrigam as culturas e fornecem água potável para bilhões de pessoas. Eles também absorvem enormes quantidades de dióxido de carbono, o gás de efeito estufa, que causam as mudanças climáticas. Sem os ecossistemas intactos, o carbono atmosférico seria mais do dobro do que é hoje, tornando o planeta inadequado para a habitação humana”, ressalta.
Fonte: UFV