Pesquisadora alerta para a importância de um acervo com o conhecimento tradicional do uso de espécies
Por Redação

“…O Brasil é o campeão da biodiversidade no mundo. É o país que tem o maior número de espécies diferentes de animais e de plantas. Então nós temos uma responsabilidade imensa de cuidar desse patrimônio todo”. É com esta fala que Maria das Graças Lins Brandão, doutora em química orgânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), busca alertar sobre a constante destruição cultural que o país vem sofrendo no que se refere à tradicionalidade do uso das plantas medicinais.
Segundo a pesquisadora, atualmente, o Brasil importa plantas e as plantas nacionais não são utilizadas. “A maioria dos medicamentos fitoterápicos registrados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não são provenientes de plantas brasileiras”, diz Maria Brandão.
Buscando minimizar esse impacto, a pesquisadora criou o Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas (Ceplamt), que faz parte do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB). Segundo Maria Brandão, a unidade tem como objetivo recuperar informações sobre plantas úteis nativas do Brasil em bibliografias e documentos históricos.
O grupo de pesquisa propõe a apresentação organizada dos registros por meio de um banco de dados online chamado Dataplamt (Banco de dados e amostras de plantas aromáticas, medicinais e tóxicas). A ideia é que o banco mantenha viva a tradicionalidade do uso desses medicamentos naturais. De acordo com a doutora, a previsão é de que, até o fim do ano, todo conteúdo, em torno de 5 mil plantas úteis, estejam catalogadas.
O Ceplamt busca, também, relatar a história do uso tradicional de algumas plantas. Segundo a pesquisadora, a medicina natural brasileira é tão antiga quanto a chinesa, o que a diferencia é que os registros só tiveram início após a colonização, quando a corte portuguesa chamou vários naturalistas para estudarem a biodiversidade do país.
Ainda de acordo com a pesquisadora e com documentos portugueses, plantas como a Copaíba já eram utilizadas para curar feridas de flechas em 1538.
Pesquisadora faz um alerta
Apesar dos estudos na área, muitas plantas possuem aplicações equivocadas. Segundo a doutora, as pessoas imaginam que pelo fato da planta servir como um medicamento, ela não é nociva, o que é muito errado.
No Brasil, outro fator importante é a ascensão dos remédios sintéticos, inseridos pela indústria farmacêutica desde a década de 1950. Isso fez com que o tratamento de doenças com plantas virasse algo ultrapassado. Além disso, essas mesmas indústrias extraem os princípios ativos da natureza, manipulam e voltam a vendê-lo como remédios ou fitoterápicos, afirma a pesquisadora.
Além disso, outro fator preocupante é que a vegetação nativa do Brasil sofre um intenso processo de extinção e perda do conhecimento tradicional. “Uma consequência, bastante visível, é o elevado número de plantas exóticas e importadas usadas na fitoterapia brasileira: o capim-santo, a babosa, a camomila, os hortelãs, a alfavaca e outras, não são nativas do Brasil”, afirma Maria Brandão por meio de material de divulgação do Ceplamt.
Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do Ceplamt, confira abaixo o vídeo produzido pela equipe do Minas Faz Ciência.
Fonte: Minas Faz Ciência