“É necessário complementar a educação brasileira, para jovens se prepararem para o mercado de trabalho que será criado pela nova economia”
Por Leandro Cipriano/Agência Gestão CT&I
A Nova Economia é como tem sido chamada a forma de negócios com uso maciço de tecnologia e inovação. Exemplos não faltam na atualidade, que vão desde empresas como Facebook, Uber ou Google, até novos empregos no mercado da internet, como youtubers, blogueiros e afins. Com as mudanças trazidas por esses avanços, conglomerados internacionais estimam que 50% das profissões de hoje se tornarão obsoletas até 2025, enquanto que 60% das profissões que dominarão nos próximos dez anos ainda não existem.
Para o Brasil acompanhar os avanços do setor, empresários do país alertam sobre a importância de romper o mindset (modelo mental predominante) e introduzir de forma emergencial o empreendedorismo na educação do país. Segundo Marcus Edrisse, empresário e co-fundador da Maiê Lab School – escola livre que conecta estudantes com soluções inovadoras -, é necessário complementar a educação brasileira, para jovens se prepararem para o mercado de trabalho que será criado pela nova economia.
“Não há no país uma educação empreendedora, e precisamos começar a disseminar essa cultura”, alertou Edrisse. “Temos uma educação que está preparando os jovens para resolver problemas que ainda não existem, usando tecnologias que ainda não foram inventadas. É uma equação complicada. A única forma que vejo de resolver isso é com educação complementar. É entendendo que a sala de aula é um ponto de partida”, ressaltou.
Na avaliação de Edrisse, o processo educacional adotado hoje é focado no conteúdo, baseado em um formato criado no início do século passado, onde não se leva em consideração as habilidades e competências pessoais de cada um. “Hoje nosso ano letivo tem 800 horas, e em nenhuma delas se fala de finanças, lideranças, empreendedorismo, risco de negócios, colaboração e criatividade. Queremos preparar os jovens para empreender e lidar com o futuro. Isso precisa ser introjetado e despertado desde muito cedo”, comentou.
Empresas funcionando dentro de universidades
Uma iniciativa nessa área citada pelo especialista foi a do Modelo de Excelência na Gestão (MEG) – movimento de empresas juniores criado para funcionar dentro de universidades. “Eu que sou empresário e estou há anos na área não sabia da profundidade ou riqueza do movimento. Vejo que são iniciativas como essa que precisam ser disseminadas. Mas para isso, precisamos mudar toda uma cultura educacional. Não é uma coisa simples.”
Outro caminho para desenvolver a cultura empreendedora no Brasil pode vir do Legislativo. Tramita no Congresso Nacional uma proposta que pretende incluir o tema de empreendedorismo no conteúdo curricular da educação básica. O Projeto de Lei do Senado (PLS) 772/2015, de autoria do senador José Agripino (DEM-RN), altera a Lei nº 9.394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. No texto, o parlamentar pontuou que “é preciso promover o protagonismo dos alunos e estimular atitudes de criatividade, assertividade e busca da inovação, o que não acontece normalmente nas escolas”.
Retorno para sociedade
O presidente do Instituto Illuminante, Marcos Nascimento, vê a educação empreendedora como um dos maiores desafios para o futuro. “É uma mudança de mindset, de cultura, de colaboração, muito mais do que só do empreendedorismo, só da parte de gestão de negócios ou operações. Não fomos educados para ser empreendedores. Muitas vezes não se nasce empreendedor, se aprende a se tornar um. Eu sou o caso”, comentou o empresário.
Na visão de Nascimento, um dos problemas que reforça esse cenário é a falta de vontade dos empresários de sucesso em estimular jovens a empreender e desenvolver soluções inovadoras. “Uma coisa que ainda não temos culturalmente é o ‘give back’. O empresário faz um negócio fantástico lá fora, mas ele não volta aqui para passar o seu conhecimento, ensinar como se faz, como chegar lá. Acho que falta um pouco de coragem e vontade dos empresários de sucesso retribuírem com sua experiência”, apontou.
Modelos
Levar empreendedores de sucesso para as universidades e apresentar aos jovens que há outras formas de conseguir empregos e desenvolver soluções inovadoras é o objetivo da Associação de Startups e Empreendedores Digitais (Asteps). De acordo com seu presidente, Hugo Giallanza, mostrar modelos de sucesso incentiva os estudantes e mostra que “há uma luz no fim do túnel”.
“Existem empreendedores fazendo coisas magníficas. Por exemplo, o caso da Zeropaper. Quatro jovens de Brasília, cada um ganhando em torno de R$ 15 mil como servidores públicos, largaram tudo porque isso não os satisfazia mais. Eles criaram um app substituto para o Excel. Conectamos eles as pessoas certas e acabaram sendo comprados por um grupo internacional por US$ 68 milhões. Penso que pessoas assim tem que ser levadas para as universidades”, relatou Giallanza.
Para Marcus Edrisse, ter uma inspiração a partir de um modelo próximo da sua realidade é o caminho para mostrar que existem outras oportunidades. Com a internet, Edrisse ressalta que encontrar modelos se torna uma tarefa ainda mais fácil. “Dessa forma, essa cultura se espalha e as pessoas começam a pensar de forma diferente. A grande maioria deles quer impactar, fazer algo e deixar sua marca. Quando se começa a ver esse movimento surgindo, e as pessoas conversando sobre isso, é uma semente. Não é algo que acontece rápido, mas se ficarmos esperando o melhor ambiente para ter isso, não vai acontecer nunca.”
Leandro Cipriano, da Agência Gestão CT&I
Foto: Pixabay
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