O #PerfilEmpreendedor desta semana traz o cofundador da startup Pris, Daniel Eloi
Por Renato Carvalho/SIMI

Esta edição do #PerfilEmpreendedor traz o cofundador da Pris, Daniel Eloi. A startup se divide em duas atuações: consultoria e treinamentos e também disponibiliza softwares como serviço para grandes empresas. Atualmente, tem em seu portfólio de clientes a Azul, Cielo, Natura, Bolsa de Valores, Pão de Açúcar, Embraer, Unicamp, entre outras.
O empreendedor, de 36 anos, conta que decidiu empreender por achar pouco inspirador trabalhar para grandes empresas que tinham como propósito apenas o enriquecimento de seus acionistas. De um mestrado na UFMG, surgiu a startup que hoje ocupa o tempo e exige dedicação de Daniel. Confira a entrevista:
SIMI: Qual é o modelo de negócios da Pris?
Daniel: Temos dois modelos de negócios. Trabalhamos tanto com a parte de consultoria e treinamento, em alguns temas que temos mais especialidades, quanto em dois softwares que disponibilizamos no modelo Software como Serviço (SaaS) para grandes empresas. Basicamente, temos um software para gerenciar a remuneração de executivos em grandes empresas, principalmente os planos de remuneração baseados em ações e opções. O outro é para gerenciar portfólios de marcas e patentes. Em ambos os casos, as empresas pagam uma assinatura mensal ou anual e usam o nosso sistema para gestão.
SIMI: Como surgiu a startup?
Daniel: Trabalhei durante um tempo em São Paulo, depois que me graduei. Trabalhei em consultoria por um ano e meio e resolvi voltar para Belo Horizonte para fazer mestrado e empreender em um outro negócio que não era a Pris. Ao longo do mestrado na Engenharia de Produção na UFMG, esse outro negócio não deu certo, e aí surgiu a oportunidade de começar a Pris. A startup começou focada em consultoria, em 2008, a partir da demanda de algumas empresas que queriam que fizéssemos alguns cálculos financeiros usando, justamente, o que eu estava pesquisando no mestrado. Essa foi uma demanda que meu orientador começou a receber e vimos a oportunidade de montar um negócio. Depois de um tempo com a consultoria, vimos os desafios crescendo. Resolvemos começar um modelo de negócio de ser, também, uma empresa de softwares. Começamos a contratar desenvolvedores e reinvestir o que ganhávamos com a consultoria. Primeiro, fizemos o programa de remuneração – que surgiu também de uma demanda de um cliente nosso. Depois fizemos o de propriedade intelectual, de marca de patentes.
SIMI: Esse primeiro negócio que você tentou e não deu certo era o que?
Daniel: Foi a minha primeira experiência com empreendedorismo. Era uma empresa de construção de casas populares. Foi um ano antes da Pris. Meu avô era meio ‘professor pardal’. Ele inventou um processo construtivo que barateia a construção de casas populares. Voltei para BH para entrar nesse universo. Por fim, por algumas questões de regulamentação – que precisávamos cumprir junto à Caixa – não tivemos como prosseguir. Os investimentos necessários eram muito altos para a gente. Tentamos durante um ano e chegamos à conclusão de que não conseguiríamos evoluir muito com o dinheiro que tínhamos. Ao mesmo tempo, surgiu a oportunidade da Pris durante meu mestrado, então foi uma coisa bem próxima da outra.
SIMI: Antes das oportunidades surgirem – o negócio das casas populares e a Pris – você já tinha ideia de empreender?
Daniel: Eu tinha ideia de empreender, sim. Quando voltei para BH já tinha esse objetivo. Não gostei da vida corporativa que tive em São Paulo. Depois da consultoria, trabalhei em um banco de São Paulo, em que a missão era, explicitamente, gerar retorno para os acionistas. Não achei inspirador trabalhar para gerar dinheiro para os donos da empresa. Isso ajudou a me levar para o lado do empreendedorismo. Eu acreditava que poderia ter algo mais interessante do que dar dinheiro para acionistas do banco.
SIMI: Ainda são poucos os negócios que saem de dentro de um mestrado, da área acadêmica. Por que no seu caso foi diferente?Daniel: Foi uma série de fatores. Eu já tinha tido uma experiência profissional em consultoria em São Paulo e isso ajudou. Sempre tive cabeça para negócios. Meu mestrado teve um pouco dessa ideia de pesquisa aplicada. Já pensava em problemas de negócios de empresas reais. É claro que a vontade de empreender contribuiu. Um grande problema para poucos negócios saírem do mestrado é porque há uma distância entre o mercado e o que está sendo feito na universidade. No meu caso, tanto eu quanto meu orientador já tínhamos experiência de mercado. Já tínhamos essa ideia corporativa, de aplicar as coisas para uma empresa real. O principal fator para ter dado certo talvez seja pelo fato de todos que estavam envolvidos no processo terem um mindset corporativo.
SIMI: Você disse ter trabalhado em grandes empresas. Qual é a principal diferença entre a forma de trabalho nessas empresas e em startups?
Daniel: São várias coisas. Uma que chama muita atenção é a flexibilidade e agilidade que há na startup. Em uma empresa grande se tem muito menos espaço para testar coisas, tentar inovar, porque às vezes há metas a serem batidas, que não deixam espaço para testes. O objetivo principal é você fazer uma máquina que já existe rodar melhor. Já na startup é diferente. É você querendo fazer a empresa sobreviver e crescer. Tem mais agilidade, mais liberdade para fazer as coisas como você acredita. Há uma autonomia para discutir qualquer assunto, há acesso à informação. Não necessariamente todas as pequenas empresas são assim, mas no nosso caso, sim. Na grande empresa, muita decisão acaba sendo tomada porque o chefe quis, que é algo diferente do que a gente acredita na Pris.
SIMI: De forma geral, o que você vê como grande dificuldade no empreendedorismo hoje em dia?
Daniel: São vários pontos. Há uma mistificação de alguns aspectos, como aquele sonho de ficar milionário, de arrumar um investidor. Muita gente empreende sem ter um propósito claro. Talvez um pouco por moda. Existe uma moda de empreendedorismo e startups e isso dificulta. Se o propósito é só ganhar dinheiro, você troca o fim pelo meio. Limita um pouco sua atuação. Há muita desinformação no tema. Muita história, muita gente que se coloca como inspiradora de empresas de tecnologia, especialista em inovação, mas que nunca empreendeu. Fala baseado em coisas que leu, vídeos que assistiu. Outro ponto de dificuldade é também o fato de ter muita gente que empreende sem ter qualquer experiência profissional.
SIMI: Você já participou de alguns processos de aceleração. Quais são os pontos positivos e negativos desses processos?
Daniel: De positivo, os programas funcionam muito bem, como um check-list. Eles te ajudam a garantir que você esteja preocupado, considerando vários aspectos que são relevantes para a vida, para a sobrevivência e sucesso de um novo negócio. Esse é o principal ponto positivo. Um ponto negativo, que não sei como poderia ser corrigido e nos incomodou um pouco, é que o processo é um pouco padrão. Há tecnologias e negócios com realidades muito diferentes: B2B, B2C, estágios diferentes de desenvolvimento. Há coisas que você é obrigado a participar pela regra do programa, que simplesmente não se aplica ao seu negócio. Você poderia usar melhor seu tempo de outras formas. Isso foi algo que nos incomodou em alguns programas.
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