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“Não há tanta diferença entre empreender na capital ou no interior”

Fundador e CEO da SemSenha.com empreende em Juiz de Fora e conta as diferenças entre ter um negócio em uma cidade do interior e na capital


Por Renato Carvalho/SIMI

Alexander Leal, CEO e fundador da SemSenha.com, conta sua história no empreendedorismo
Crédito: Arquivo Pessoal

Nas capitais e grandes cidades é muito comum encontrar um ecossistema de negócios desenvolvido. No entanto, as cidades do interior também são férteis em geração de soluções inovadoras. Mas será que é mais difícil empreender longe das capitais?

Quem responde essa pergunta e conta um pouco de sua história no #PerfilEmpreendedor desta semana é o CEO e fundador da SemSenha.com, Alexander Leal. Com 39 anos, e natural do Rio de Janeiro, Alexander mora há 27 em Juiz de Fora, cidade que escolheu para investir em sua startup. Confira a entrevista:

SIMI: O que é a SemSenha.com?
Alexander: Somos uma empresa de hotspot, um sistema de gerenciamento wi-fi. Para explicar um pouco o funcionamento do serviço, quando você vai em um restaurante ou em uma cafeteria, e tenta pedir a senha do wi-fi, muitas das vezes é preciso passar por uma série de barreiras. Ter que perguntar a senha para alguém, ter que se informar daquela situação. Às vezes, a senha é muito complexa, não se entende direito. Tem letra maiúscula e minúscula, e mesmo assim, depois de passar por todas essas etapas, muitas vezes se encontra um serviço ruim. Não tem qualidade do sinal, ou a navegação não é adequada. Então aquele benefício que o estabelecimento tentou te oferecer acaba sendo uma coisa ruim, um problema.

SIMI: Qual é o benefício que o SemSenha.com proporciona para os estabelecimentos e para os clientes?
Alexander: Com o SemSenha, os dois lados ganham. O usuário tem um acesso facilitado e não precisa de senha. Ele ganha uma navegação com mais qualidade, pois temos um equipamento gerenciando o serviço. Fazemos os controles de banda, uma série de configurações de monitoramento para manter a qualidade. Do outro lado, o dono do estabelecimento consegue ter as informações daquela pessoa que está acessando e, ao mesmo tempo, fazer publicidade do estabelecimento dele. Há a possibilidade de personalizar a mensagem que é exibida no celular dos clientes. É possível segmentar apenas às segundas-feiras, por exemplo, ou em diferentes horários. Pode-se colocar várias imagens ao mesmo tempo, programando por datas, como Natal. O estabelecimento tem todo o controle de qual imagem vai ser exibida. A partir do momento que o cliente viu essa imagem, ele passa para a segunda etapa, que a gente chama de identificação. É o momento em que o estabelecimento vai saber quem é o usuário. Há um breve cadastro de nome e e-mail apenas, para não ser uma barreira. Esse cadastro é unificado no Brasil inteiro. Se ele foi em Fortaleza e fez o cadastro, e em BH usar o SemSenha, não vai precisar se cadastrar novamente. A terceira etapa é o direcionamento, que é a primeira página de acesso daquele usuário. Pode ser qualquer endereço web. Pode ser um questionário, uma divulgação de algum produto específico, uma promoção. Quando a gente fala de redes sociais, Instagram e Facebook, nosso serviço identica se o usuário tem o aplicativo instalado no celular e, ao abrir o aplicativo, automaticamente cai na fanpage ou perfil do estabelecimento. Isso facilita a curtida e identifica aquele usuário. Cria mais um contato do estabelecimento com o cliente. Fora que o restaurante tem a lista de e-mail das pessoas que utilizaram, que pode ser trabalhada depois em algumas campanhas de e-mail marketing.

SIMI: Como vocês chegaram nesse modelo de negócio?
Alexander: O surgimento da ideia foi até engraçado. Somos de Juiz de Fora, mas a ideia e o protótipo surgiram para Belo Horizonte. Meu sócio, que tem uma grande experiência em questão de provedores e comunicação wireless, tinha um amigo que estava montando um restaurante em Belo Horizonte. Em uma conversa em uma padaria, esse amigo dele comentou: “poxa, que chato esse negócio de ficar perguntando senha. A internet não funciona direito”. Então ele teve a ideia de fazer um produto que a pessoa se conectasse sem pedir senha, e ela clicasse em um tela para entrar, sem cadastro. Como sou programador e já conhecia esse meu sócio, ele veio me procurar falando da ideia. Achei que funcionaria. Eu estava em outro projeto, que não tinha nada a ver com tecnologia, trabalhando na fabricação de uma máquina de corte e metal, mas tive interesse em participar do projeto, que nem nome tinha. A gente começou a modelar o produto, ver os custos, como poderíamos ganhar dinheiro com isso, se iria cobrar mensal, se iria vender o produto. O negócio foi tomando tanto corpo que abandonei o outro projeto, vendi minha parte, e fiquei em tempo integral no SemSenha.

SIMI: A SemSenha foi sua primeira experiência com o empreendedorismo ou você já tem outro contato com a área?
Alexander: Não. Desde os 15 anos, praticamente, eu já tenho empresa. Com 15 anos eu montei minha primeira empresa, de softwares BBS, que era o avô da internet.

SIMI: Por que você começou a empreender cedo assim? Foi algum estímulo familiar?
Alexander: Acredito que seja um pouco do meu pai. Ele sempre foi uma pessoa que teve várias empresas, que sempre arrumava um jeito de fazer alguma coisa que pudesse trazer alguma compensação financeira. “Vamos fazer camisa, montar estamparia.” Aí não dava certo e montava outra coisa. “Vamos montar uma bomboniere.” Desde pequeno vivi um pouco nesse meio, mais dando errado do que certo, para falar a verdade. É até legal que o fato de o meu pai ter errado muito durante minha infância e adolescência, me deixou muito mais seguro para fazer as coisas que faço hoje. Sou um pouco mais calculista, penso mais no que o processo vai me trazer, o que vou investir – de tempo e dinheiro.

SIMI: Qual é a principal diferença de empreender em negócios tradicionais e no mercado tecnológico?
Alexander: Quando a gente analisa a grosso modo, em relação a fluxo de caixa, de dinheiro, de funcionário, é tudo a mesma coisa. Tem as suas diferenças, óbvio, assim como se você montar uma padaria é uma coisa, e se montar uma locadora é outra. No fundo, no fundo é igual. Quando se pensa em tecnologia, você começa a ter uma visão maior, assim como nosso produto, que é a nível nacional, a coisa toma uma proporção diferente. A preocupação com o marketing para alcançar um cliente no Amazonas, ou coisa desse tipo, é bem diferente. A situação do poder do crescimento. Você monta uma loja, no mercado tradicional, você demora anos para a coisa acontecer. Você passa por várias etapas, crise do governo, sobe e desce, entre outros. Quando se trabalha com tecnologia você tem, pelo menos, a esperança para que no próximo ano a empresa tenha, no mínimo, o dobro do seu tamanho. Essa possibilidade de crescimento muito acentuada, assim como também a possibilidade de quebrar e fechar mais rápido, muda bastante a visão de como trabalhar dentro de uma startup.

SIMI: Quais foram as principais dificuldades que você já enfrentou no empreendedorismo?
Alexander: Uma das dificuldades que costumo ressaltar foi por causa dessa minha excessiva segurança. A gente se dedicou 100% à SemSenha.com. É complicado ser sua única fonte de renda. É preciso reinvestir sempre. Você precisa criar uma roda que vai girando para poder ir crescendo, e ao mesmo tempo, precisa tirar dinheiro para viver daquilo. Tanto você quanto seu sócio. E desde o início nunca pensamos em investidor. Sempre quisemos ser bootstrapping. Por mais que a gente acreditasse muito na nossa ideia, não queríamos colocar alguém que não ofereceria um valor alto, até porque estávamos no início. Queríamos batalhar e fazer girar. Por causa disso, acabei trazendo muitas funções tanto para mim, quanto para meu sócio. Ficamos muito tempo fazendo todo o trabalho e isso limitou um pouco o nosso crescimento mais exponencial. Isso veio muito da minha segurança do passado. A startup começou com duas, três pessoas, e o normal seria já ampliar a equipe, a partir dos primeiros passos, para 10, 15 pessoas. Nossa visão já era um pouco inversa. Eu queria fazer a startup ser sustentável, ter o sustento da minha família, e fazê-la crescer.

SIMI: Como está a SemSenha hoje? Como é o estágio atual e a perspectiva de vocês para o restante do ano?
Alexander: Hoje a SemSenha está em 22 estados, se não me falha a memória. Já temos clientes importantíssimos, como Ambev, Tok&Stok, Araújo, vários clientes de renome no Brasil e somos uma equipe de três pessoas. A gente costuma brincar que as pessoas se assustam quando falamos isso. Sou eu, meu sócio e mais uma pessoa. Meu sócio cuida da parte de suporte, infraestrutura e rede, eu cuido da parte financeira, administrativa e programação, e a terceira pessoa, que é a minha esposa, cuida da parte de vendas.

SIMI: A rotina de startup é bem pesada. Como é dividir esse peso em três?
Alexander: Exatamente. Tínhamos essa perspectiva de contratar mais gente, ampliar a equipe. Até alugamos uma sala e decoramos de forma bem legal, preparada para receber mais 10 pessoas fácil, mas até hoje está só com as três pessoas. Estávamos dando conta e queríamos criar um fundo de capital nosso para que, no futuro, não precisássemos pedir ou correr atrás de investir. Graças a Deus deu tudo certo essa nossa aposta. Hoje estamos em um patamar de investimento nosso muito bom.Tivemos um crescimento muito bom. Estamos bem satisfeitos com o posicionamento, mas sabemos que agora é o momento de aumentar essa equipe, conquistar mais pessoas e começar a alcançar outros locais que ainda não alcançamos. Por mais que estejamos em crescimento, será que não poderia ser maior, mais acelerado? Hoje temos uma possibilidade de reinvestir com mais tranquilidade para poder arriscar nesse crescimento. Costumamos dizer que um dos maiores orgulhos nossos, e também uma das maiores vergonhas, é o fato de praticamente nunca termos investido, de forma decente, em marketing. É uma vergonha a gente falar isso, mesmo tendo condição e capital, e ao mesmo tempo, é um orgulho a gente pensar que chegamos onde chegamos sem esse tipo de investimento. As pessoas vêm até a gente. Temos muitos clientes em Amazonas, Fortaleza, Florianópolis. Todos eles nos acharam de alguma forma, usando o serviço em outros lugares. Fizemos testes em Portugal, pessoas que vieram para o Brasil durante a Copa e usaram o serviço e gostaram. A gente está com o projeto de internacionalizar, acredito mais provavelmente para o ano que vem.

SIMI: Como é empreender em Juiz de Fora?
Alexander: De modo geral, isso não faz muita diferença. Até porque as pessoas que entram em contato com a gente quase nem veem de onde somos. As pessoas ligam para São Paulo, BH, Rio e cai tudo aqui conosco. Já aconteceram várias vezes de clientes de Juiz de Fora ligarem para nós e se assustarem porque nem sabiam que somos daqui. Sabemos que nosso produto é em escala de Brasil, então não tem porque focar aqui. No início, tivemos bastante dificuldade de firmar o produto na nossa cidade. Começamos a ter muito mais clientes fora de Juiz de Fora do que dentro. Meu sócio brinca que ele tem trauma da palavra “parabéns”. Quando estávamos testando o que poderíamos fazer, fomos de porta em porta e todo mundo falava “parabéns, seu produto é maravilhoso”. Mas na hora de fechar, as mesmas pessoas davam para trás: “temos que ver, tenho que ver com meu sócio. Às vezes, a mentalidade do empresário de um interior – e Juiz de Fora é até bem grandinha – é um pouco limitada nesse sentido de marketing, divulgação, de tratamento mais especial para o cliente. Às vezes, o empresário aceita a acomodação de apenas oferecer a internet para o cliente. Depois que começamos a crescer um pouco mais aqui, as empresas começaram a vir atrás. A dificuldade que tivemos por estar no interior foi na origem. Mas, de repente, eu estaria no meio de São Paulo e teria os mesmos “nãos”. Seria um pouco injusto afirmar que é por ser Juiz de Fora ou ser interior. Atualmente, a dificuldade que podemos falar é sobre participar de eventos, cursos, que às vezes no interior não tem. Temos muitas feiras em São Paulo, o cenário gira muito em Belo Horizonte, e como estamos em uma cidade um pouco mais afastada, isso não acontece tanto.

SIMI: Então não é um problema empreender estando no interior…
Alexander: Exatamente. Pelo contrário, você até tem uma facilidade. Não foi o nosso caso, mas percebemos pelos nossos amigos que têm startups, que é mais fácil em relação à mão de obra. O custo dessa mão de obra aqui seria mais baixo do que em uma capital, de repente. Dificuldades e facilidades se encontra de qualquer jeito. Se eu tivesse feito meu produto pensando em Juiz de Fora, aí eu não chegaria nem onde cheguei. Desde o início pensamos em como vender para longe. Nosso produto já vai totalmente pré-configurado. Não é necessário que ninguém acompanhe para fazer a instalação. Não há diferença de vender o sistema de wi-fi para Fortaleza ou Santa Catarina. Envio o sistema pelo Correios, o cliente recebe, liga na tomada e faz umas três configurações indicadas e está tudo pronto.

Fonte:

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