Criado por uma professora de São Paulo, projeto foi um dos finalistas do Desafio InoveMob
Por Redação

“As pessoas precisam usar a cidade como um lugar de encontro, de vínculo, de laço. Acredito que estar com o outro é uma possibilidade de troca e de aprendizado. Acho que nossa maior habilidade é essa. Promover encontros e cuidar dessas relações para que elas sejam fortalecidas nesse caminhar.” A fala é de Carolina Padilha, idealizadora do Carona a Pé. A iniciativa surgiu do olhar atento da professora que sentiu vontade de promover o caminhar das crianças do seu bairro nos trajetos até a escola. Há três anos, o Carona a pé era apenas uma ideia, hoje ele ele é um projeto em execução em São Paulo e Belo Horizonte e, recentemente, foi um dos cinco finalistas do Desafio InoveMob.
Muitos estudos apontam os diversos benefícios da prática, que envolve desde ganhos na saúde – não só relacionados ao condicionamento físico, mas também no controle da ansiedade e ganhos de concentração – até benefícios para o desenvolvimento social das crianças. Em outros países, como Portugal e Estados Unidos, existem programas semelhantes ao Carona a Pé, o Pedibus e o WalkingBus, respectivamente.
No Brasil, o Carona a Pé é um projeto pioneiro e teve como teste a escola onde Carolina leciona em São Paulo. O pulo do gato aconteceu quando ela passou a observar que todos os dias muitos dos seus alunos faziam o mesmo trajeto que ela para a escola, às vezes sozinhos ou acompanhados por algum responsável, o que lhe gerou uma inquietação. “A gente estava indo para o mesmo lugar, para cumprir a mesma carga-horária, eu conhecia aquelas crianças, os pais delas. E todo mundo estava desconectado andando pela cidade e fazendo o mesmo caminho”, conta. A partir desta observação, a professora realizou um mapeamento das crianças que moravam próximas àquela escola e contatou os pais para que eles apoiassem a ideia para promover diariamente a carona a pé.
Carolina Padilha conta que a primeira rota gerou conversas e, assim, outras começaram a se estabelecer. Além disso, ela conseguiu o apoio de duas mães, Renata Morettin e Juliana Levy, que hoje são sócias da iniciativa.
Segundo Carolina, a decisão de entrar no Desafio InoveMob surgiu com a vontade de validar e expandir o projeto de uma forma melhor estruturada. Para isso, foi preciso criar um projeto-piloto. Para executar essa etapa do desafio, Belo Horizonte foi a cidade escolhida. A implementação ocorreu em sete escolas da rede municipal com o apoio da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e a Secretaria Municipal de Educação (SMED).
A partir daí, o Carona a Pé passou a integrar o Programa Escola Integrada, que acomoda alunos em uma jornada diária de nove horas, no chamado contraturno escolar, e oferece oficinas e cursos sobre cultura, esportes, lazer e formação cidadã.
“O que me encanta no Carona a Pé é o resgate do processo de circulação pela cidade em um tempo que possibilita dialogar. Transitando a pé você passa a conversar com o outro de uma perspectiva diferente, você passa a enxergar a comunidade de uma perspectiva diferente”, acredita Lucilene Alencar das Dores, gerente do Programa Escola Integrada.
Para Edina Lara, gerente de Educação para o Trânsito da BHTrans, o projeto vem ao encontro do objetivo que a empresa tem de diminuir o uso do carro particular em prol dos transportes coletivos e do caminhar. “O transporte a pé faz ela interagir com o outro e com o meio, o que faz ela desenvolver um olhar mais crítico para as questões sociais, as questões da cidade. Ao caminhar vai se construindo uma aprendizagem.”
Mesmo nos primeiros meses de execução, o projeto é bastante elogiado por educadores, pais e principalmente, por alunos.”Eu gosto de andar com todo mundo, acho muito bom porque a gente convive bastante. Todo mundo passa na rua e fica olhando, até elogia”, conta Isadora Aleixo Pires, aluna da Escola Municipal Padre Flávio Giametta.
Mônica Carmo de Aleixo, mãe de Isadora, também é fã da iniciativa. “É muito interessante observar o quanto as crianças interagem. A gente acaba nem sentindo a distância da caminhada porque vamos batendo papo. É muito gostoso estar todo mundo junto”.
Com 2019 batendo na porta, a ideia é que o projeto continue avançando pela cidade. “Estamos com a expectativa de que precisamos alcançar a cidade toda, que as três redes de educação possam se apropriar e querer desenvolver o projeto”, afirma Edina.
Apesar de não levar o prêmio do desafio, o projeto recebeu US$ 20 mil para implementação do projeto-piloto em BH. Quem conquistou a premiação foi o aplicativo de caronas corporativas, o Bynd. Além dos U$ 20 mil, a startup recebeu US$ 100 mil para escalar projeto. Mesmo não tendo vencido, para as crianças, pais e educadores, o projeto já é campeão.
Fonte: WRI Brasil