A Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) trouxe importante debate sobre a engenharia frente aos novos modelos de negócios
Por Alysson Lisboa
Cerca de 65% das crianças que estão entrando na escola primária vão trabalhar em profissões que ainda não existem hoje. Como fortalecer a criatividade do aluno diante de um rigor pedagógico e das estruturas curriculares atuais? E mais, como pensar o futuro de nosso país diante do cenário de grandes revoluções e crescimento tecnológico? Essas e outras discussões foram trazidas a Belo Horizonte durante o evento CEOs Engenharia 2019 – Os Desafios da Reconstrução.
O encontro buscou analisar o cenário brasileiro, os desafios da infraestrutura e a formação dos novos profissionais. Na parte da manhã, Teodomiro Diniz Camargos, vice-presidente da Fiemg; e Rubens Menin, presidente do Conselho da MRV Engenharia, trataram o tema “Empreendedorismo e Inovação no Estado Moderno”. Os empresários destacaram que precisamos mudar nosso mindset e preparar os estudantes para gerir informação e novos conhecimentos, mas com uma ação de maior protagonismo. É urgente buscar modelos de parceria com as universidades e dar um caráter mais social às empresas. Mas como isso é possível?
Uma das maneiras de começar a mudança é aproximar a universidade, o mercado e os alunos das faculdades. “A máquina está substituindo o homem. Os processos de tomada de decisão também estão sendo realizados pelas ferramentas tecnológicas, mas vamos programar máquinas e nos transformarmos em mão de obra para novas profissões.
Constantino Seixas Filho, diretor da Accenture, conversou com os participantes sobre o impacto das mudanças trazidas pelas tecnologias. Os dispositivos vestíveis vão melhorar os processos dentro das empresas. “Por meio de um dispositivo móvel tenho qualquer informação sobre, por exemplo, como funciona um equipamento”, completa Constantino. Formar novos profissionais para os desafios do novo mundo que se avizinha é urgente.
O diretor da Accenture destaca que a UFMG está muito bem aparelhada e pronta para inovar. “Temos laboratórios muito modernos, mas o grande desafio é treinar novamente as pessoas que já exercem as profissões formados há mais de 20 anos e dar possibilidade para que elas aprendam sobre as mudanças atuais nas profissões”, comenta Constantino. Mesmo com laboratórios modernos, as novas tecnologias demandam novos equipamentos e nós sabemos que não é algo fácil realizar essas modernizações, principalmente nas universidades públicas.
Mas a mudança é urgente e não pode esperar. Para o Brasil tornar-se competitivo no mundo, precisamos sair da síndrome de vira-lata e partir para um olhar mais de futuro, sem focar nas nossas fragilidades, sejam elas estruturais, legislativas e tributárias. Parafraseando Mário Sérgio Cortela, ”A idade da pedra não acabou por falta da pedra”. Não precisamos assistir à mudança ou fim de um processo para pensar na mudança ou preparar nossos alunos e cientistas. Temos que estar sempre um passo à frente.
Uma educação voltada para projetos
“Tornar as universidades e escolas de engenharia excitantes, criativas, aventurosas, rigorosas, exigentes e ambientes de empoderamento é mais importante que especificar detalhes curriculares. Essa frase é de “Charles Vest, educador e engenheiro norte-americano, e retrata bem o espírito que a reitoria da UFMG quer mostrar aos novos alunos.
A inovação tem que começar nos primeiros anos da vida estudantil e não como algo inatingível ou para poucos. Outro desafio é preparar a mão de obra de quem já está formado, uma vez que as mudanças tecnológicas e de processos são cada vez mais rápidas. O cenário nacional passa pela necessidade da mudança nas diretrizes curriculares para que sejam mais inovadoras, dando novos direcionamentos para a regulamentação profissional.
Como está sendo pensada a nova formação dos aluno?
O professor Alessandro Fernandes Moreira, vice-reitor da UFMG discorreu também sobre o papel da universidade na construção de uma nova mentalidade e adaptação às tecnologias emergentes. “As atividades acadêmicas curriculares, realização de eventos, participação de congressos, núcleo complementar com formações em empreendedorismo e inovação para compor a formação do aluno são alguma das ações que a UFMG vem realizando para exatamente dar visibilidade e trazer aproximação com o mercado”, destaca o professor.
Mas como como vamos construir conhecimento para as novas profissões? O currículo tem que ser flexível, ressalta o professor Alessandro. A trilha do aluno e suas escolhas precisam ser respeitadas. Fazer com que o currículo seja menos engessado e inserir novos modelos de aferição de competências são alguns dos desafios apontados pelos especialistas. Outro ponto levantado pelos participantes foi a inclusão das mulheres no cenário não apenas das engenharias, mas também nos cargos de liderança das grandes empresas. A diversidade é fator de competitividade, ressaltou Constantino Seixas. “Precisamos dar oportunidade para as mulheres nas carreiras técnicas. Estimamos que, em 2025, cerca de 25% dos cargos técnicos sejam ocupados por mulheres.
Márcia Castro de Magalhães, presidente da comissão técnica Cidades Sustentáveis da Sociedade Mineira de Engenheiros
Cooperação entre empresas e Estado
Outro ponto trazido à mesa pelos especialistas refere-se às cidades sustentáveis e digitais. Márcia Castro de Magalhães, presidente da comissão técnica Cidades Sustentáveis da Sociedade Mineira de Engenheiros, ressalta que o modelo de segurança das informações e da estrutura tornou-se insustentável por parte do Estado. “As empresas precisam assumir, de alguma forma, o que o Estado não suporta mais fazer. Temos que pensar de novos modos para que as empresas possam ser parceiras das cidades. “Na medida que forneço fibra ótica, por exemplo, dou acesso à inclusão digital.”
Espera-se que o governo saia dos aspectos básicos, ajude e facilite para que a iniciativa privada possa contribuir de modo mais efetivo”, completa Márcia. Ao final do evento, foram entregues ao vice-governador eleito, Paulo Brant, as propostas trazidas e debatidas durante o evento.
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