O #PerfilEmpreendedor traz Rodrigo Franzot que conta como potencializou suas ações sociais a partir de um modelo de negócio escalável
Por Renato Carvalho/SIMI
Rodrigo Franzot, de 31 anos, é um dos fundadores da startup Risü, uma plataforma online que reverte o valor de compras online em doação a Organizações Não Governamentais (ONGs). Formado em Direito, o empreendedor sempre esteve ligado a projetos sociais e resolveu, com amigos, potencializar suas ações por meio do empreendedorismo social. Confira o #PerfilEmpreendedor desta semana:
SIMI: O que é Risü?
Rodrigo: A Risü é um shopping online do bem, no qual parte do valor de suas compras, em mais de 400 lojas parceiras, se transforma em doação para uma causa social de sua escolha, sem que você pague nada a mais por isso. Você entra no site da Risü, escolhe a loja em que quer comprar, escolhe a ONG que quer apoiar e faz a compra normalmente. Depois do fim de sua compra, parte daquele valor se transforma em doação para quem você escolheu. Fazemos a ligação entre o usuário e a loja, e o valor da comissão que recebemos, doamos para a ONG que o usuário escolheu.
SIMI: Como surgiu a Risü? De onde veio esse modelo?
Rodrigo: Essa história é muito bacana. Eu, Francis e Lucas, que somos os três fundadores, sempre fomos muito ligados à área social desde muito novos. Sempre fizemos trabalho voluntário e ajudamos várias causas sociais há muitos anos. Tínhamos uma dor muito grande de ir na causa, fazer um trabalho voluntário e depois ir embora. Apesar de deixar um pouco de energia e amor, a causa ficava na mesma situação, não conseguia elevar de patamar, pois no dia seguinte tínhamos que estar às 8h trabalhando em nossos antigos empregos. Sempre tivemos uma ideia de ajudar mais e mais, até que sentamos para bater-papo. O Francis me ligou, ele tinha saído do trabalho e foi lá para casa para conversar. Entre as conversas, veio na pauta que minha casa estava muito vazia, há uns dois anos para alugar. Na frente da casa tinha um morador de rua e víamos aquilo como algo muito injusto, já que eu não poderia, simplesmente, colocar o cara para dentro, porque o condomínio não permitiria. Eu já era empreendedor e a gente pensou em criar um empreendimento para ajudar os outros. Algo que a gente conseguisse, além de fazer o bem, sobreviver daquilo. Não aguentávamos entregar nosso trabalho voluntário e não ter tempo para fazer algo mais profundo. O Francis chegou com a ideia de uma ONG que acabou não existindo, que se chamaria Believe. Era uma ideia muito megalomaníaca de convencer grandes empresas a doar 1% do seu faturamento para a ONG realizar redistribuição de renda. Atingiríamos a base da pirâmide e causaria um impacto social gigante. Então, combinamos de sentar e colocar isso no papel e ver como poderíamos executar. Ficamos um dia inteiro tentando chegar a um modelo de negócios que funcionasse, de fato. A gente se reuniu de novo em uma segunda-feira, bem cedo, e lá pelas 19h o Lucas, o outro sócio, ligou e perguntou o que estávamos fazendo. Ele também estava envolvido com as questões sociais e foi para a minha casa também. Começamos a botar no papel, a discutir, tivemos várias ideias. Até que meia-noite em ponto a gente teve a ideia da Risü. A partir do dia seguinte, já começamos a trabalhar nela. Eu estava montando um escritório de advocacia, tinha acabado de me formar, e também tinha uma empresa de presentes criativos. Abri mão de tudo, vendi minha empresa para as sócias. Era o que eu queria para a minha vida, então não fazia sentido perder tempo com outras atividades. O Lucas trabalhava em um plano de saúde e também saiu da empresa. O Francis, que trabalhava em um mineradora, já tinha saído também. Fomos trabalhar na Risü como se já estivéssemos trabalhando há anos nela.
SIMI: Você já empreendia, então?
Rodrigo: Já empreendi algumas vezes. Quando tinha 16 anos, eu tinha um site de fotos de eventos, o Camarote BH. Nunca chegou a ser grande. Na verdade, montei porque eu queria ir nas festas. Depois eu tive essa loja de presentes, que também não virou grandes coisas.
SIMI: Mas com startup a Risü foi a primeira experiência?
Rodrigo: Na verdade, a Camarote BH era quase uma startup, né? Era uma empresa de fotos, voltada para tecnologia, escalável, repetível, só que eu não sabia que era startup na época.
SIMI: Você cursou Direito e abandonou o escritório. Como foi sair de uma área tradicional para ir empreender?
Rodrigo: Foi a melhor coisa que fiz em minha vida, sem dúvida. Sempre gostei muito do Direito, da teoria, é muito bonito. Mas nunca gostei muito da prática, porque não é tão bonita quanto a teoria. A parte que eu mais gostava no Direito, inclusive em meus estágios, era a que eu podia empreender dentro dessas lugares. Captar cliente. Ia para o Fórum para fazer o trabalho de estagiário e tentava captar clientes, criar técnicas e hacks para poder captar mais e mais clientes, sem ferir o estatuto da OAB. Tudo isso supervisionado pelos advogados para quem eu trabalhava, é claro. Sempre quis empreender de novo, gostava muito do Camarote, mas era mais uma brincadeira do que uma empresa de verdade. Quando me formei, já tinha a empresa de presentes criativos, e isso era a parte que mais gostava. O Direito, em si, nunca me apaixonei mesmo. Foi muito bom, foi muito transformador essa mudança. O Direito é tudo muito regulado, a OAB regula demais.
SIMI: Mas por que você acredita ainda ser difícil empreender na área do Direito?
Rodrigo: É muito difícil. Tem melhorado, há muitas LawTechs aparecendo aí, só que ainda é um mercado que dá para ser muito explorado. É uma área muito tradicional, complexa. Você vai em um tribunal de Justiça falar com um desembargador e precisa colocar uma beca. Estagiário tem que estar de terno e gravata. Se vai conversar com juiz é Vossa Excelência. A modernização é um caminho sem volta, já há algumas comissões de startups na OAB.
SIMI: E como é fazer empreendedorismo social?
Rodrigo: Quando a gente começou, uma dor muito grande que tínhamos era o pensamento de que talvez estivéssemos fazendo algo errado, antiético. Na nossa cabeça não havia problema, mas ficávamos preocupados em saber como as pessoas enxergavam. Nem sabíamos que existia empreendedorismo social. A Risü é uma empresa, como qualquer outra, mas o objetivo final, a proposta de valor é transformar a vida das pessoas. Obviamente, o lucro, o dinheiro que a gente recebe é consequência de um legado que a gente quer deixar. Isso não quer dizer que ele [lucro] é menos importante do que o legado. O objeto, o motivo de a gente ter montado a Risü, foi para gerar impacto social. A gente entende que para gerar cada vez mais impacto social a Risü precisa ser uma empresa financeiramente sustentável, senão faremos o que todos fazem: ir no lugar, fazer um trabalho voluntário, pontual, e depois voltar para casa. Das 8h às 18h não poder fazer nada porque tem que trabalhar em outro lugar. Então não ajudaria de fato. O empreendedor social se dedica a isso e para conseguir gerar cada vez mais impacto social, a Risü precisa se sustentar. Uma sugestão que dou para pessoas que trabalham com empresas de impacto social é sempre procurar ser sustentável, para não precisar ficar part-time nas suas startups. Nunca vi ninguém ter sucesso trabalhando só em horários vagos. Como não queríamos trabalhar apenas em horários vagos, a gente precisava ser financeiramente sustentável. Quanto mais sucesso fizermos, mais gente ajudamos e consequentemente mais dinheiro ganhamos. Hoje na Risü a gente consegue ajudar uma ONG no Pará, Roraima, no Amazonas, e daqui de Belo Horizonte a pessoa pode comprar 100 vezes. Posso ter 1 milhão de ONGs, 100 milhões de usuários, que minha estrutura não muda.
SIMI: Qual é a maior dificuldade que vocês enfrentaram no empreendedorismo social?
Rodrigo: O empreendedorismo social é igual qualquer outro empreendedorismo. O começo de toda startup é muito difícil pela falta de monetização. Uma dificuldade muito grande que tivemos, e achamos que teríamos até mais, é a desconfiança das pessoas. O terceiro setor infelizmente tem muita ONG corrupta, muita ONG que não é idônea. A gente vê nos noticiários todos os dias. Mas entramos muito preparados para isso. Na Risü fazemos uma curadoria para saber da idoneidade das ONGs. Procuramos todas as informações que estão ao nosso alcance para termos o máximo de segurança possível. Isso nos ajudou muito a crescer. Normalmente, as ONGs que apoiamos são reconhecidamente idôneas pelos usuários, e isso acabou ligando nosso nome a bons parceiros. O terceiro setor sofre muito com os escândalos de corrupção e quem sofre mais são os justos. A gente também tem esse trabalho de ajudá-los a ‘pagar menos o pato’ dos corruptos. No começo, tivemos muita desconfiança. Uma dica que dou é: “Entenda seu cliente e seu mercado antes de sair fazendo as coisas pelo cotovelo”.
SIMI: Qual é o próximo degrau que a Risü vai subir?
Rodrigo: Nosso grande sonho é conseguir impactar 1 milhão de vidas mensalmente. Hoje em dia impactamos por volta de 10 mil, contando todas as ONGs e pessoas que apoiam. Estamos muito longe disso, mas vamos chegar lá. Vamos subindo degrau por degrau, 20 mil, 30 mil, 40 mil e assim por diante. Estamos em uma comunidade que se chama Trop, que abriu agora em Belo Horizonte. E também estamos no Startup Brasil, então isso vai nos ajudar bastante, tem proporcionado muito networking.
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