Apesar de ser conhecida pelas startups e pela comunicação virtual, BH ainda tem problemas para se firmar como fornecedora de conhecimento
Por Redação

A capital nacional do pão de queijo agora também é endereço do primeiro escritório da Embraer, fora da sede paulista da companhia. Agora, a cidade está imersa num ambiente de serviços de alta complexidade disputados por grandes competidores no exterior que vai além do mundo virtual, onde as habilidades da capital mineira vêm se consolidando nos últimos cinco anos.
Jovens profissionais assinam os projetos dos novos jatos comerciais da Embraer que levarão a marca da companhia e de BH pelo mundo. Eles se juntaram às equipes de outros centros de excelência em tecnologia da informação e projetos já instalados por prestadoras de serviços, como Google e da também brasileira CI&T, com 2.500 empregados em cinco continentes.
Com 120 anos completados hoje, 12 de dezembro, esses investimentos como esses dão a dimensão dos desafios que BH terá de abraçar para se firmar como fornecedora de conhecimento e tecnologia, o motivo pelo qual ela atrai empresas nascentes do San Pedro Valley, comunidade de startups de base tecnológica iniciada no Bairro São Pedro, sob inspiração do Vale do Silício americano, a corporações com atuação mundial. A cada bilhão de reais produzido pela economia, R$ 680 milhões são movimentados pela prestação de serviços. Eles ganham sofisticação, mas também esbarram numa série de problemas que a capital enfrenta, desde a pressão dos vizinhos do seu entorno, aos gargalos na infraestrutura logística, de energia e comunicações.
Com a terceira maior região metropolitana do país, a capital mineira dá emprego e renda a pelo menos 380 mil pessoas que se deslocam diariamente em direção à cidade, além de ser destino para tratamento de saúde e ensino. Nas empresas e nas universidades não se discute mais a vocação de BH e as possibilidades de um futuro associado à produção de conhecimento. Em entrevista ao EM, o diretor de engenharia do Google para a América Latina, Berthuer Ribeiro-Neto, disse que o maior desafio é transferir o conhecimento concentrado nas universidades para a iniciativa privada. “Esse conhecimento tem enorme valor, mas voltamos aqui às estruturas cartoriais: como a gente move esse conhecimento, que por uma distorção brasileira está incrustado nas universidades, para o setor produtivo.?”
Israel Salmen, fundador da Méliuz, empresa que apurou vendas de R$ 1 bilhão no ano passado, e emprega 150 pessoas, no chamado segmento do cashback, tentou responder algumas das perguntas: “Há cerca de seis anos nenhuma daquelas empresas existia e nem mesmo o conceito colaborativo do San Pedro Valley. Elas surgiram, na maioria dos casos, a partir de ideias de jovens saídos de cursos universitários de tecnologia e que souberam empreender”, afirma.
Recentemente, um estudo divulgado neste ano pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) aponta que o destaque conquistado por BH no segmento das empresas de base tecnológica e alto potencial de crescimento permitiu que Minas Gerais ultrapassasse o Rio de Janeiro em número de empreendimentos. Agora, o estado só está atrás de São Paulo. Ainda de acordo com o estudo, das 5 mil startups cadastradas em 2016 no Brasil, 591 estão instaladas em Minas, das quais mais de 70% (418 empresas) são da capital mineira.
“Quando a gente olha para o futuro não só de BH, quanto de Minas Gerais, fica muito animado. Se as empresas continuarem crescendo o estado será conhecido não só pela sua riqueza mineral, mas também pela produção de tecnologia”, diz Israel Salmen.
Para o superintendente da Fiemg, Guilherme Veloso Leão, tudo caminha no sentido de que Belo Horizonte seja cada vez mais forte em serviços intensivos de conhecimento, “com destaque nas áreas de tecnologia da informação, serviços de saúde e das fintechs (startups que desenvolvem inovações tecnológicas para o setor financeiro), de engenharia vinculada a grandes setores da indústria, como alimentos, e de biotecnologia. Nesta última, a cidade já é reconhecida como polo do Brasil”, afirma.
Os problemas com os quais a cidade se depara, contudo, não são poucos. Para o superintendente da Fiemg, o maior deles é a infraestrutura, em especial a mobilidade urbana em uma metrópole que sequer conta com linhas suficientes e eficientes de metrô. A importância assumida pelo setor de serviços parece ser um caminho sem volta, inclusive no período atual de recuperação da economia do estado e do Brasil, segundo o estatístico Reinaldo Carvalho de Morais, coordenador do PIB municipal na Fundação João Pinheiro.
“Apostaria que os serviços vão se recuperar mais rápido porque estão bastante associados à reação do consumo das famílias”, afirma Reinaldo Morais. O especialista observa que tanto o comércio quanto as atividades imobiliárias e de intermediação financeira têm particular contribuição na pujança dos serviços na capital mineira.
Fonte: EM