Startup de BH desenvolve aplicativo de segurança e monitoramento voltado para o público feminino
Por Paula Isis/SIMI
Henrique, Jaqueline, Priscila Gama e Anna, responsáveis pelo desenvolvimento do Malalai
A cada três horas uma mulher é estuprada no Brasil. É o que apontam os dados do telefone 180, da Secretaria de Políticas Para Mulheres. Mas esse número deve ser ainda maior, uma vez que, muitas vítimas acabam não denunciando por medo ou vergonha.
Assim como esses números chamam atenção da população, no ano passado a tag #MeuPrimeiroAssedio ganhou repercussão nas mídias sociais ao reunir relatos de mulheres que sofreram assédio e/ou abuso ao longo de suas vidas.
Um desses relatos chamou a atenção da arquiteta e urbanista Priscila Gama, CEO da Malalai. Uma mulher pediu um taxi à noite para voltar para casa. Ao perceber que o taxi se desviava da rota, questionou o taxista que travou as portas e apontou uma arma para ela. A vítima foi estuprada por dois homens e abandonada no mesmo local em que embarcou. “O relato do que se tornou sua vida depois do fato, mais especificamente da rotina de sofrimento até que todos os exames de saúde fossem feitos, e todos os depoimentos para esclarecimento do crime fossem dados, é extremamente perturbador”, recorda Priscila.
Surgiu, então, um questionamento sobre como estes casos poderiam ser evitados. “Se alguém tivesse visto que o taxi estava se desviando da rota ou se ela tivesse tido a chance de alertar alguém sobre sua situação de perigo, talvez o pior não tivesse ocorrido”, enfatiza.
A ideia
Incomodada com o relato e com os números alarmantes da violência contra a mulher em nosso país, Priscila participou do Startup Wekeend BH, em dezembro do ano passado, e apresentou a ideia de um aplicativo que ajudasse no monitoramento de mulheres que circulam sozinhas em locais públicos. Ao subir ao palco, Priscila foi aplaudida pelos demais participantes e três pessoas compraram a ideia. A partir daquele fim de semana, surgiu a Malalai.
A plataforma desenvolvida por dois profissionais de tecnologia da informação, uma arquiteta urbanista e uma engenheira de produção, fornece solução tecnológica para viabilizar o aprimoramento da segurança de mulheres sozinhas, principalmente no deslocamento noturno.
Divulgação/Malalaia
Após uma pequena pesquisa, foi constatado pela equipe que a maioria das mulheres tem o hábito de avisar alguém sobre seus deslocamentos e a solução proposta baseia-se justamente nesta relação de confiança. “Esta pessoa que preza pela segurança da mulher, é chamada de keeper”, afirma Priscila.
A Malalai, a partir desta relação, converte a informação de localização em maior segurança para a mulher e maior tranquilidade para quem preza por ela, atuando em três frentes: prevenção, conforto cognitivo, ou seja, a sensação de segurança e medida emergencial. “Os dois primeiros são viabilizados por um aplicativo, e o terceiro por um hardware”, destaca.
Para a prevenção, as mulheres poderão mapear pontos em que se sentiram vulneráveis ou indícios de rota segura, gerando assim, um mapeamento colaborativo de rotas seguras e inseguras.
Com relação ao conforto cognitivo, a mulher poderá escolher alguém de sua confiança para que a acompanhe em tempo real, virtualmente. “Esta pessoa, além de poder visualizar o seu deslocamento no mapa, receberá mensagens informando sobre sua saída da origem, aproximação do destino e chegada ao destino”, ressalta.
Indagada sobre a possibilidade de parcerias com o governo para ajudar no combate à violência contra a mulher, Priscila enfatiza que o interesse maior é em instituições de fomento a não violência à mulher. “Apesar de sermos uma empresa de tecnologia, o caráter social da proposta é muito relevante e entendemos que possa fazer uma grande diferença também na vida de mulheres de baixa renda, que talvez não possam pagar pelo hardware”, ressalta.
Sendo assim, a CEO acredita que parcerias com instituições como a ONU Mulheres, por exemplo, seriam extremamente relevantes para desenvolvimento de estratégias de subvenção com o objetivo de oferecer suporte a estas mulheres.
Estudo feito pela ONG ÉNois Inteligência Jovem em parceria com Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia Galvão, constatou que 90% das mulheres já deixaram de fazer algo por medo da violência, por serem mulheres.
Acionamento por emergência
Para emergência, a CEO explica que um hardware, que será acionado em casos de situação de perigo, fará com que o celular da mulher envie para o número de quem ela escolher, uma mensagem de alerta com a localização. O pedido de ajuda é rápido e discreto, dispensando a necessidade de mexer no aparelho e consequentemente, reduzindo o risco de aceleração da violência. “Esse hardware é um acessório tecnológico que pode ser usado como colar, chaveiro ou bottom”, explica.
Malalai conectada à Polícia
Segundo Priscila, o objetivo, a longo prazo, é que o keeper possa acionar a polícia de forma rápida, sem que tenha que realizar uma ligação para informar a localização. A ideia é que a pessoa possa simplesmente encaminhar o pedido de ajuda para a polícia e a viatura mais próxima seria encaminhada ao local. A Malalai tem buscado contatos para estabelecer esta parceria, ressalta.
Lançamento
O objetivo é lançar a versão gratuita do aplicativo até o fim de maio, adianta a CEO. A versão premium e a fabricação de hardware serão desenvolvidas nos meses seguintes. “Esperamos oferecer a solução completa e disponibilizar o hardware para compra até novembro”.
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