Marina Andrade é coordenadora do Programa de Popularização da Ciência e Tecnologia do Governo de Minas Gerais
Por Marina Andrade
Marina Pinto de Andrade Alves – Coordenadora do Pop Ciência MG – Programa de Popularização da Ciência e Tecnologia de MG
Históricamente a ciência, a tecnologia e a inovação são apontadas como importantes motores da transformação econômica e social dos países. A procura por novas possibilidades de transformar o conhecimento em inovação – e em riqueza, por conseqüência – envolve inúmeros atores: Governo, sociedade civil, empresários, terceiro setor, indústria, universidade, entidades de classe e outros. Sendo assim, em 1985 foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, a fim de discutir democraticamente os rumos, propostas e metas para o setor. De lá para cá aconteceram outras três, a última delas em 2010.
A 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, na capital federal, teve seu maior público, com mais de 4 mil participantes. Foi a culminância de diversos encontros estaduais, fóruns e conferências regionais, com o objetivo de discutir uma política de estado para C,T&I com vistas ao desenvolvimento sustentável. Como resultado, foram reunidos no Livro Azul as orientações para a superação dos novos desafios da política de ciência, tecnologia e inovação, para que de fato ela se torne uma política de Estado.
As discussões foram organizadas em quatro grandes eixos, o último deles: Ciência, Tecnologia & Inovação para o Desenvolvimento Social. Basicamente, este eixo se desdobra em quatro outros subtemas: inclusão digital, inclusão social e produtiva; tecnologia social e assistiva; popularização da CT&I; e melhoria do ensino de ciências.
A Popularização da Ciência busca promover a apropriação do conhecimento científico pela população em geral, a fim de promover autonomia e, consequentemente, possibilitar a conquista do empoderamento por meio do conhecimento científico. Tem como finalidade aprimorar a popularização da cultura científico-tecnológica e contribuir para a melhoria da qualidade do ensino das ciências. O entendimento de questões científicas permite que as pessoas desenvolvam um senso crítico a respeito do mundo, pois a crescente influência destas áreas, em diferentes dimensões do mundo contemporâneo, torna cada vez mais indispensável o entendimento das questões técnico-científicas para o exercício da cidadania.
Além disso, ações de Popularização da C&T objetivam despertar vocações científicas, ou seja, incentivar a escolha de profissões ligadas à ciência e a tecnologia. As transformações sociais, cada vez mais rápidas, estão intimamente ligadas às mudanças no processo de produção de bens e serviços. Neste contexto, a formação de profissionais ligados às áreas de CT&I são fundamentais para que, principalmente, países em desenvolvimento possam competir no mercado cada vez mais globalizado.
Na área de C&T observa-se uma predominânia masculina. As razões pelas quais exite esta discrepância apresentam explicações de ordem sócio-cultural, econômica e cognitiva, e sobre isso se fazem necessárias reflexões sobre este fenômeno que não se restringe às fronteiras do Brasil. Mesmo que existam diferenças biológias entre os sexos, estas não justificam a maior representação masculina nas áreas de C&T.
Aspectos relacionados às estruturas institucionais estão mais fundamentados do que uma inaptidão feminina para as ciências extas. As dificuldades inerentes à carreira científica-tecnológia se somam às dificuldades em concilar as demandas profissionais do parceiro, à sobrecarga devido ao acúmulo de tarefas domésticas, além da dificuldade de administrar a carreira e a família. A pouca representatividade femininina nos cargos de liderança e uma menor expectativa de sucesso na carreira de C&T para as mulheres desestimulam as adolescentes na escolha profissional, o que acarreta no abandono do emprego ao longo dos anos devido à dificuldade na obtenção de bolsas de fomento.
A inserção das mulheres neste nicho implica em profundas transformações, tanto sociais quanto econômicas. Isso por que a participação feminina, bem como de outras minorias, enriquece a academia, uma vez que contribui com novas motivações, valores e diversidade de abordagens para a busca de soluções.
Para reverter este quadro, muitas entidades e empresas já estão adotando uma política de flexibilidade de horários, criando creches, implementando políticas que garantam a representação feminina em comitês, agências de fomento, órgãos representativos govenamentais e institucionais, para que pensem em soluções como, por exemplo, políticas de cotas e de igualdade salarial.
No mês de maio, a 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia completa seis anos. No Livro Azul não foram citados os problemas nas relações de gênero na C&T e nem, tão pouco, ainda temos uma política de estado de inserção e incentivo à participação feminina, o que nos indica a urgência da discussão, em âmbito governamental, de uma política que faça frente ao importante potencial intelectual e econômico que este grupo representa.
Marina Pinto de Andrade Alves
Coordenadora do Pop Ciência MG – Programa de Popularização da Ciência e Tecnologia de MG
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