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Ensinando robótica com lixo eletrônico

Liberato Silva escolheu Minas Gerais para viver e ensinar robótica para alunos do ensino médio. Empreendedor social, ele mostra seu trabalho na segunda melhor universidade do mundo, nos Estados Unidos


Por Alysson Lisboa/SIMI

“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo.” A frase é do educador recifense Paulo Freire e serve bem para ilustrar a trajetória de outro brasileiro, também de Recife, que escolheu Belo Horizonte para morar e difundir conhecimento.

Liberato Silva chegou à capital mineira há 25 anos trazendo na bagagem a curiosa vontade de aprender. “Minas é um lugar muito bom para estudar”, ouvia ele na cidade onde nasceu, Jaboatão dos Guararapes, interior de Pernambuco. Liberato, hoje com 49 anos, deixou para trás a humilde família e 10 irmãos para começar a mudar sua história e a de muitas crianças.

Assim que desembarcou na rodoviária de Belo Horizonte procurou um mapa da cidade para definir em qual lugar iria dormir. Não tinha dinheiro algum e escolheu a Praça da Liberdade para morar. Com visão estratégica, além de o local ser seguro, ele passou a conviver de perto com museus, bibliotecas e a Faculdade de Engenharia da UFMG, que na época ficava no início da Rua da Bahia. Liberato foi capaz de interagir com um ecossistema que o ajudaria muito.

Ele sempre soube que o conhecimento abria portas, e para ele não poderia ser diferente. Com apoio dos professores da Faculdade de Engenharia, frequentou as aulas como ouvinte. Escolheu as disciplinas de interesse, começou a aprender e nunca mais parou. Aulas de programação, robótica e circuitos elétricos deram a ele a chave para o conhecimento e a força para continuar em frente.

Perseverante, Liberato passou a criar uma sistemática rotina de estudos e leitura. Com apenas a 6ª série do ensino fundamental, gostava de ler bibliografias. “Eu lia muito. Queria entender como os grandes líderes pensavam de modo estratégico”, recordou. Assim aprendeu com o Lacocca, ex-presidente da Chrysler; Akio Morita, da Sony, e Peter Drucker, entre outros.

Liberato leciona oficinas de robótica com lixo reciclado para alunos do ensino médio na Escola Izabella Hendrix. Ministra também palestras e cursos para empresas como Fundação Torino, Fiat e Fundação Dom Cabral. Faz trabalho de empreendedorismo social em regiões de baixa renda atraindo alunos com suas aulas criativas e inspiradoras.

Ele não ensina a pescar
O professor estimula seus alunos a encontrarem soluções a partir de material reciclado que recebe como doação. São teclados, mouses, monitores, placas, pedaços de madeira, fios, impressoras e até tablets em perfeito uso. Com seu modo de falar simples e cativante, não ensina repetindo conceitos. Ele deixa que o aluno crie e descubra por si só. Lança perguntas e pede que interajam com os objetos. Acontece, então, a construção gradativa do saber. Leis da física entremeadas nos espetos de madeira e engrenagens; palitos de picolé e estruturas metálicas que explicam matemática ou engenharia. Aos poucos, os alunos apreendem sem perceber o que poderia resultar em fórmulas, equações e desinteresse.

Liberato é o professor que transforma curiosidade em conhecimento e muda a forma de ensinar. Ele convida o aluno a experimentar e aprender. Com seu jeito brando de falar e um brilho nos olhos, de quem cresceu consumindo livros, ele virou uma página em sua vida. Liberato hoje passeia pelos largos corredores da Universidade de Stanford, uma das mais conceituadas do mundo, para mostrar seu trabalho. Nos Estados Unidos ninguém pergunta a ele qual a sua formação e, sim, o que ele sabe fazer. Em junho ele embarca em nova viagem para visitar a University of Central Lancashire em Preston, Reino Unido.

O brasileiro Liberato Silva é o típico professor que cresce nas adversidades e trabalha por amor. Serve como exemplo para mostrar que o futuro da educação não está apenas no uso da tecnologia na sala de aula, mas também nas mãos de quem acredita que a educação é a única mola capaz de mudar as pessoas e reciclar o mundo.

Fonte:

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