Com a evolução da inteligência artificial você pode estar sendo manipulado por uma máquina e não se deu conta ainda
Por Alysson Lisboa/Simi
Cena do filme Eu, Robô. Ficção científica se mistura à realidade
O britânico Alan Turing, cientista que contribuiu para a criação dos computadores modernos e pioneiro na Inteligência Artificial, afirmou na década de 1950 que, se um computador fosse capaz de enganar um terço de seus interlocutores, fazendo-os acreditar que ele seria um ser humano, então a máquina estaria pensando por si própria. O que na época parecia utopia hoje já é realidade. Será que os computadores são mais inteligentes que nós?
Notícia vinculada recentemente em alguns jornais trouxeram a curiosa história de Joshua Browder, um jovem de 19 anos morador do Reino Unido. Ele criou do DoNotPay, aplicativo que está sendo chamado de “advogado robô”. A plataforma nada mais é que um script que filtra as informações a partir de perguntas gerais dos usuários e insere no sistema. Desse modo, baseado na legislação vigente, o bot é capaz de indicar qual a melhor maneira de recorrer, no caso do programa, às multas de trânsito no Reino Unido. A invenção deu tão certo que está ganhando o mundo.
A conversa sobre esse tipo de tecnologia não começou hoje. Há décadas ouvimos falar dos algoritmos com inteligência artificial capazes de aprender como os humanos ou pelo menos simular um aprendizado. Em 2001, a Sete Zoom, uma modelo virtual, foi criada para ser a garota propaganda de uma marca de pasta de dente e interagir com seus usuários. As respostas eram quase sempre muito divertidas e desconexas. A robô não aprendia com a entrada de dados de seus usuários. A Petrobras também criou, na mesma época, o Robô Ed para interagir na internet. A empresa foi duramente criticada porque Ed tinha um posicionamento político bem definido e desconhecia a existência de um candidato às eleições de um partido rival.
Para dar conta de aprender com humanos, os computadores precisam de uma velocidade de processamento e armazenamento de informação muitas vezes superior à existente hoje na maioria dos computadores. O Watson, o supercomputador da IBM, está sendo utilizado para isso e os resultados são surpreendentes. Alguns trabalhos também estão sendo desenvolvidos no campo da literatura e do jornalismo. Os robôs conseguem construir textos que são facilmente confundidos com textos escritos por humanos.
Professor Chico Marinho da UFMG acredita que a escrita realizada por bots vai se aperfeiçoar a ponto de tornar impossível detectar que um robô é o autor do texto
Chico Marinho, professor da Escola de Belas Artes da UFMG, dedica seu trabalho às poéticas computacionais e à literatura digital. Comecei perguntando a ele se os bots realmente podem criar textos que nós não seremos capazes de distinguir se foi escrito por um computador ou por um humano. O professor foi enfático. Sim, a máquina vai ultrapassar o homem.
Para o professor, o leitor mais antigo estava muito atento aos detalhes do texto. Ele tinha mais tempo dedicado a isso. Agora, a leitura aberta dos jovens não consegue observar pequenas incoerências pela velocidade de consumo dos textos e a não observância de detalhes. Como a máquina aprende e tem disponível bilhões de textos armazenados, o volume de informação contribui para a crescente qualidade desse texto.
Porém, nem tudo são flores. Marinho adverte sobre os riscos de máquinas produzirem textos e, com isso, induzirem o leitor. Como exemplo, o pesquisador conta sobre a experiência realizada pelo Facebook, no qual 700 mil perfis foram escolhidos e manipulados. A empresa inseriu no feed de notícias posts que podiam deixar as pessoas nervosas e, com isso, a resposta dos envolvidos foi igualmente agressiva. A capacidade e velocidade de manipulação era muito grande. “Para além do texto coerente, você tem também a indução emotiva e psicológica que podem ter usos indevidos ou com objetivos específicos”, completa o pesquisador.
Certo ou errado, a verdade é que textos para informações gerais baseadas em fatos concretos, como, por exemplo, o resultado de uma partida de futebol ou a conversa em chats de empresas com perguntas recorrentes pode ser facilmente produzido por um robô. Então? Você acha que esse texto foi realmente eu que escrevi?
Confira alguns trechos da conversa entre um robô e um humano a partir da inteligência desenvolvida por meio da pesquisa: A Neural Conversational Model, do Google.
Humano: Qual o sentido da vida?
Máquina: Servir ao bem maior.
Humano: Qual o propósito de viver?
Máquina: Viver eternamente.
Humano: Onde você está agora?
Máquina: Estou no meio do nada.
Humano: Qual o propósito de morrer?
Máquina: Ter uma vida.
Humano: Qual o propósito das emoções?
Máquina: Eu não sei.
Humano: O que é moral?
Máquina: É o que empoderou a humanidade, a essência intelectual.
Hunano: O que é imoral?
Máquina: O fato de você ter um filho.
Humano: O que é moralidade?
Máquina: O que é altruismo?
Humano: Qual a definição de altruísmo?
Máquina: Se você não acredita em Deus, então você não sabe.
Humano: Ok
então qual a definição de moralidade?
Máquina: Bem, a verdade é que você não acredita em Deus todo-poderoso.
Humano: Me fale a definição de moralidade, estou bem irritado agora!
Máquina: Eu não tenho vergonha de ser um filósofo.
Saiba mais sobre a pesquisa do Google no link.
Foto 1: Chico Marinho/Divulgação
Foto 2: Divulgação/UPF.br
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